'A gente leva pancada e recua': Isabel Filardis recorda racismo na carreira
Isabel Fillardis, 51, acredita no poder da representatividade na TV para ajudar a combater o racismo estrutural que permeia a sociedade.
Representatividade
A discussão sobre racismo estrutural sempre esteve presente na vida de Isabel, mesmo que, na década de 1990, ela não tivesse consciência da representatividade provocada pelo seu trabalho. Atriz conversou com Splash durante o Festival Negritudes Globo, realizado na semana ada para destacar o pensamento negro.
Sempre fui representatividade, mas de uma forma empírica. Eu não tinha consciência na década de 1990 do lugar que eu estava ocupando, do espaço e da representatividade que eu já estava criando aos 18 anos. É gratificante, prazeroso e essencial que eventos como esses existam cada vez mais, para a gente possa se encontrar, se escutar, se conhecer mais e aprender um com o outro.
Hoje, com a valorização da presença de mulheres negras em papéis protagonistas, Isabel vê com orgulho as mudanças nas produções audiovisuais. "O Brasil quer se ver. O Brasil precisa se ver para que ele possa evoluir, para que a gente possa, de fato, ter uma sociedade equânime, não só nas artes, não só na televisão, mas no mercado privado, na sociedade civil como um todo".
Ter meninas pretas lá representando, fazendo vários papéis, é de suma importância para que as outras pequenas possam olhar e falar: 'Eu posso sonhar. Eu posso querer. É meu direito'.
Isabel Fillardis estreou como Ritinha em "Renascer" (1993), na Globo. Em seguida, emendou trabalhos na emissora como "Pátria Minha" (1994), "A Indomada" (1997) e "Força de um Desejo" (1999). Naquela década, poucas atrizes negras conseguiam papeis de destaque nos folhetins.
Suas novelas mais recentes são "Gênesis" (2021), da Record e "Amor Perfeito" (2023), na Globo. Também participou do reality The Masked Singer em 2022 e voltou a investir na carreira como cantora.
A Isabel por trás da Fillardis
Um dos seus projetos mais recentes é a autobiografia "Muito Prazer, Isabel: Cristina & Fillardis", lançada no final de 2024. No livro, ela compartilha com o público aspectos profundos de sua vida pessoal, como lutas femininas, relacionamentos tóxicos e espiritualidade Ela também fala sobre os três filhos e maternidade atípica — Jamal tem Síndrome de West, Kalel é autista e Analuz foi diagnosticada com transtorno de ansiedade.
Livro fala sobre a Isabel Cristina, a mulher que sustenta a Isabel Fillardis. É uma oportunidade de me conhecerem de uma forma mais profunda.
A atriz também reflete sobre as dificuldades que enfrentou durante a carreira, incluindo momentos de escassez de oportunidades para pessoas negras. "Vivi momentos dentro do racismo estrutural, que é o mais difícil de ser combatido. Quando escrevi minha autobiografia, mergulhei nesse universo, olhando toda a minha história de fora e vi quantos inúmeros momentos eu vivi. Muitas vezes, a gente leva essas pancadas e recua, se inibe, se magoa".
O mais importante diante de todas essas adversidades que a gente possa viver 24 horas por dia e eu, como mulher preta aos 51 anos posso dizer isso, é você olhar de frente e falar: 'Eu vou sentir o golpe, mas eu vou seguir, porque ninguém vai me parar'.
Festival Negritudes
Isabel participou de uma mesa em homenagem ao legado de Alcione ao lado de Mumuzinho e Pedro Rajão, produtor do projeto Negro Mudo. A mediação da jornalista Aline Midlej.
Festival Negritudes no Rio de Janeiro foi acompanhado por 2 mil pessoas no Galpão da Cidadania, região histórica para a diáspora africana na capital carioca. Gilberto Gil, Maju Coutinho, Duda Santos, Kenya Sade, MV Bill, Flávia Oliveira, entre outros, aram pelo palco de debates. Brasília, Salvador e São Paulo também receberão o festival ainda em 2025.