Presidente autoproclamado, dívidas e invasão: os dias após saída de Augusto

O Corinthians vive um caos político de dimensões históricas desde a saída provisória de Augusto Melo da presidência do clube. Enquanto ele contesta o processo de impeachment, votado pelo Conselho Deliberativo (CD) no dia 26 de maio, que aprovou seu afastamento, o Timão faz contas para tentar sair do vermelho nos cofres.
Presidente autoproclamado
Augusto Melo diz que ainda é presidente do Corinthians. Ele se baseia numa votação da Comissão de Ética, em 9 de abril, que teria afastado Romeu Tuma Jr. da presidência do CD. Porém, Tuma sequer foi notificado sobre essa decisão do colegiado até o momento.
Desde o dia que fui eleito democraticamente, sempre me considerei presidente do clube. Estou empossado pela atual presidente do Conselho.
Augusto Melo, em entrevista à ESPN, ontem
Neste contexto, a conselheira Maria Angela de Souza Ocampos, aliada de Augusto, se intitulou "herdeira" da presidência do Conselho. Maria Ângela diz ser a próxima a assumir o cargo, pelo fato de Romeu ter sido afastado e Roberson de Medeiros, que é presidente da Comissão de Ética e também vice-presidente do CD, tirar licença médica.
O primeiro ato de Maria Ângela, enquanto suposta nova presidente do Conselho, foi anular a votação do impeachment de Augusto. Na sequência, ela decidiu que Augusto deveria retornar à presidência.
O problema é que, desde abril, Tuma nunca deixou de exercer o cargo de presidente do Conselho, inclusive com o aval de Roberson de Medeiros. O vice ocupou a cadeira ao lado de Tuma no dia da reprovação das contas do primeiro ano da gestão de Augusto Melo — e deixou que ele presidisse a sessão.
Invasão ao Parque São Jorge e revolta interna
Na tarde do último sábado, Augusto tentou retomar a presidência e entrou no prédio istrativo do Parque São Jorge ao lado de apoiadores. A situação gerou revolta da atual diretoria e de órgãos fiscalizadores do Corinthians, que considerou o caso como uma "decisão tomada às escuras".
Não há espaço no presente caso para qualquer artimanha a tentar deslegitimar a atuação do Conselho Deliberativo, que democraticamente após a rigorosa observância do rito processual do artigo 107 do Estatuto, entendeu pelo afastamento do presidente Augusto Melo, oportunidade em que lhe foi dado todo o o ao contraditório e ampla defesa em um devido processo legal que, diferentemente do presente caso, em que uma decisão tomada às escuras, sem processo válido e fora das competências do Conselho de Ética tenta deslegitimar a atuação diligente do Conselho em dar melhores rumos do clube.
Comissão de Justiça e Conselho de Orientação do Corinthians, em carta aberta
Osmar Stabille, presidente interino, classificou o ato como uma "tentativa de golpe" e chamou as autoridades policiais. O caso foi levado até a Drade (Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva).
Torcedores organizados chegaram a invadir o clube após a confusão entre conselheiros e incitaram violência por meio das redes sociais. Imagens de policiais entrando no Parque São Jorge para "retomar" o local foram transmitidas ao vivo por diversos veículos de imprensa.
Augusto Melo até fez um boletim de ocorrência contra Douglas Deungaro, o Metaleiro, ex-presidente da Gaviões da Fiel. O mandatário afastado afirma ter sido ameaçado de morte pelo membro da organizada.
Crise financeira e dívidas
Além do caos político, outro ponto chama atenção no quadro atual do Timão: a crise financeira. Com mais dívidas a pagar do que entradas previstas no caixa, o Corinthians está vivendo em constante sinal de alerta.
O UOL apurou que o clube pode alcançar mais um rombo, superior a R$ 30 milhões. As dívidas são referentes a contratos com empresas contratadas nesta gestão, direitos de imagem, multas e acordos com clubes por compra e empréstimo de jogadores.
Inclusive, o Corinthians foi condenado pela Fifa a pagar 1 milhão de euros (R$ 6,5 milhões) ao Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, pelo empréstimo de Maycon. A decisão saiu em fevereiro, mas só foi tornada pública nesta semana. O Timão corre risco de transfer ban e luta para tentar quitar o valor.