Alucinações e menos 11 kg: atleta quebra recorde ao correr por 35 dias

O inglês William Goodge, 31, tornou-se a pessoa mais rápida a cruzar a Austrália correndo. Em 34 dias, ele correu mais de 3.840 quilômetros entre as cidades de Perth, na costa oeste, e Sydney, na costa leste do país.
O que aconteceu
Goodge partiu da praia Cottesloe Beach no dia 15 de abril. O objetivo era chegar até a praia Bondi Beach, do outro lado do país, no menor tempo possível. Para isso, o atleta contou com uma equipe que incluía o próprio pai, Graham Goodge, um treinador profissional e responsáveis pela produção de conteúdo para as mídias sociais de sua missão, chamada The Record Down Under.
Ao longo da travessia, Goodge corria entre 15 e 16 horas por dia. Conforme os registros compartilhados pelo atleta, o percurso foi feito em velocidades mais baixas, como 7 km/h. Neste ritmo, ele conseguiu correr mais de 100 km por dia, o equivalente a cerca de duas maratonas e meia.
Ultramaratonista fazia pausas para se alimentar e dormir por cerca de 5h40. O sono, no entanto, não era restaurador. "[Era] algo como estar sonhando, mas acordado ao mesmo tempo", relatou ele à rede norte-americana CNN. Em seu relato, Goodge contou que ou a ter alucinações por conta do cansaço e das dores no corpo.
Eu estava tendo pesadelos sobre o que estava fazendo e me sentia preso. Era extremamente claustrofóbico. Mesmo estando lá fora, em uma grande extensão —não poderia haver mais espaço ao redor. Mas, por alguma razão, eu me sentia muito confinado e a noite parecia se arrastar por muito tempo. William Goodge à CNN
Segundo o ultramaratonista, os primeiros nove dias foram como um "pesadelo em loop". Depois do décimo dia, o atleta sentiu que seu organismo estava se adaptando à tarefa. Já no trecho final da travessia, Goodge diz ter tido "cinco dias bons" consecutivos.
Corredor concluiu o percurso em 19 de maio. O atleta foi recebido por uma multidão e comemorou o feito emocionado. "Eu estava chorando um pouco no final, especialmente quando estava fazendo meu discurso. Há um enorme peso tirado dos seus ombros... Eu estava simplesmente confuso, sobrecarregado, feliz, um pouco triste. Foi um pouco de tudo", disse à CNN.
Após o término da corrida, ele ou a compartilhar sua recuperação. "Força zero nas pernas e incapacidade de sair e fazer muita coisa", escreveu no início de junho, quando relatou estar dormindo entre 14 e 15 horas por dia.
Esforço físico fez com que Goodge perdesse quase 11 quilos. Segundo publicação em seu Instagram, no início da travessia seu peso era de 92,7 quilos. Ao final do percurso, ele estava pesando 81,9 quilos.
Austrália não foi o primeiro país na rota de Goodge. O atleta já cruzou o Reino Unido e os Estados Unidos. Neste último, iniciou o trajeto em Los Angeles, na Califórnia (costa oeste) e seguiu até Nova York (costa leste), em uma corrida de mais de 4.820 quilômetros. Na Austrália, o inglês superou o atual recorde de Chris Turnbull, que realizou o percurso em 39 dias em 2023.
Corridas começaram como homenagem à mãe
Goodge começou a correr depois que sua mãe morreu de câncer, em 2018. Mandy tinha um linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer no sistema linfático. Em declaração para o portal da missão The Record Down Under, Goodge conta que, no início, a corrida era apenas uma maneira de lidar com a tristeza que sentia na época. "Eu a respeitava demais para simplesmente jogar minha vida fora e poderia facilmente ter escolhido outro caminho, [como] as drogas e o álcool", diz.
No entanto, o que era uma forma de aliviar a tristeza acabou virando uma "aventura vertiginosa". Além das corridas atravessando diferentes países, o atleta também realizou 48 maratonas em apenas 30 dias. "Mãe, eu sei que você está lá em cima, cuidando de mim e guiando cada o meu. Eu te amo e sinto sua falta todos os dias", declara Goodge.
Hoje, as corridas de Goodge têm uma causa nobre. O atleta usa sua visibilidade para arrecadar dinheiro para instituições de caridade voltadas ao combate contra o câncer. São elas: Macmillan Cancer , no Reino Unido; American Cancer Society, nos Estados Unidos; e Cancer Council, na Austrália. "Estou comprometido a me submeter a qualquer sofrimento para chegar ao outro lado [do país] e arrecadar o máximo de dinheiro e conscientização possível", diz.
Tenho plena consciência de que, não importa o que aconteça nesta jornada, não estou nem perto de ar pelo que alguém que luta contra o câncer a. Pode-se chamar isso de meu superpoder: ignoro meu próprio sofrimento. William Goodge