Leila Slimani e Virginie Despentes encabeçam lista de 300 escritores que denunciam genocídio em Gaza
Um grupo de 300 escritores de língua sa ? entre eles Leila Slimani (Canção de Ninar), o prêmio Nobel de Literatura J.M.G. Le Clézio (O Deserto), Virginie Despentes (Teoria King Kong), o senegalês Mohamed Mbougar Sarr (A Mais Secreta Memória dos Homens) e a também Nobel Annie Ernaux (O Lugar) ? assinam nesta terça-feira (27) um contundente editorial no jornal francês Libération, intitulado "Não podemos mais nos contentar com a palavra 'horror': é preciso hoje nomear o genocídio em Gaza".
Um grupo de 300 escritores de língua sa ? entre eles Leila Slimani (Canção de Ninar), o prêmio Nobel de Literatura J.M.G. Le Clézio (O Deserto), Virginie Despentes (Teoria King Kong), o senegalês Mohamed Mbougar Sarr (A Mais Secreta Memória dos Homens) e a também Nobel Annie Ernaux (O Lugar) ? assinam nesta terça-feira (27) um contundente editorial no jornal francês Libération, intitulado "Não podemos mais nos contentar com a palavra 'horror': é preciso hoje nomear o genocídio em Gaza".
O texto afirma que já não há espaço para ambiguidades semânticas diante da destruição sistemática de Gaza. Os escritores citam a deterioração das condições humanitárias e a violência deliberada contra civis como evidências de um extermínio em curso e denunciam o que os autores consideram ser um "extermínio sistemático" da população palestina, amparado por declarações de membros do governo israelense e por uma "destruição deliberada da vida civil na Faixa de Gaza".
O editorial publicado no Libération ecoa ainda o alerta de juristas internacionais e organizações como a Anistia Internacional, a Médicos Sem Fronteiras, a Human Rights Watch e o Conselho de Direitos Humanos da ONU, que já apontam para elementos característicos de um "genocídio em curso".
"Especialistas da ONU declararam recentemente: 'Enquanto os Estados discutem sobre a terminologia (trata-se ou não de um genocídio?), Israel prossegue com a destruição implacável da vida em Gaza, por meio de ataques terrestres, aéreos e marítimos, deslocando e massacrando impunemente a população restante [...]'", afirmam os escritores.
Citando a poeta palestina Hiba Abu Nada, morta por bombardeios israelenses em outubro de 2023, os escritores enfatizam que a guerra também destrói a cultura e impõe o silêncio. "Uma morte é também uma censura", afirma o texto.
Ao matar um escritor ou uma escritora, apaga-se uma cultura, uma liberdade, um testemunho, um arquivo.
O manifesto denuncia que "Israel mata sem cessar palestinos e palestinas, às dezenas, todos os dias". Segundo o texto, "quando Israel não os mata, mutila, desloca ou os condena à fome deliberadamente. Israel destruiu os lugares da escrita e da leitura ? bibliotecas, universidades, casas, parques".
Para os autores, é preciso abandonar a linguagem evasiva. "Tropas israelenses seguem destruindo implacavelmente a vida em Gaza [...]. Ninguém é poupado: crianças, pessoas com deficiência, mães que amamentam, jornalistas, profissionais da saúde, trabalhadores humanitários ou reféns", diz o texto publicado nesta terça-feira (27) no Libé.
A publicação cita ainda a noção jurídica de "espectador-apoiador", do Tribunal Penal Internacional (TPI), para alertar sobre a "cumplicidade iva" da comunidade internacional, cobrando ações concretas: "Façamos com que essa Gaza tome forma aqui na Terra, o quanto antes. Mais do que nunca, exijamos que sejam impostas sanções ao Estado de Israel, que se estabeleça um cessar-fogo imediato ? que garanta segurança e justiça aos palestinos, a libertação dos reféns israelenses, dos milhares de prisioneiros palestinos detidos arbitrariamente nas prisões israelenses, e que ponha fim, sem demora, a esse genocídio que nos compromete a todos."
"Papel político da literatura em tempos de barbárie"
Os signatários do editorial reafirmam o papel político da literatura em tempos de barbárie: "Nosso ofício exige nomear o real e tornar visíveis suas zonas de sombra. Trata-se de buscar um vocabulário que dê conta dos nossos mundos." Frente à destruição, os escritores alertam:
Frequentemente, as palavras certas, as que importavam, foram erradicadas junto com aqueles que poderiam escrevê-las.
"Nós, escritores e escritoras de língua sa, demoramos demais para falar com uma só voz. Alguns de nós já am tribunas e petições, escreveram, votaram, manifestaram-se. Hoje, falamos em nome da nossa profissão ? para também falar das nossas e dos nossos", dizem os autores no Libé.
"Sejamos claros: a vida de um escritor ou de uma escritora não é mais preciosa que a de qualquer outra pessoa", item os autores, completando: "especialmente quando famílias inteiras são apagadas rotineiramente dos registros civis". "Então por que falar como escritores? Porque ao matar um escritor ou uma escritora, apaga-se uma cultura, uma liberdade, um testemunho, um arquivo. Oblitera-se um corpus inteiro e impõe-se o silêncio", contextualiza o grupo de renomados escritores de língua sa, que acumula uma impressionante lista de prêmios em todo o mundo.
Além dos autores já citados, o texto é também endossado por nomes como Alice Zeniter (A Arte de Perder), Alain Damasio (La Horde du Contrevent), Faïza Guène (Kiffe kiffe demain), Gaël Faye (Pequeno País), Laurent Gaudé (A Morte do Rei Tsongor), Paul B. Preciado (Um Apartamento em Urano) e Rokhaya Diallo (Ne reste pas à ta place), entre outros grandes nomes da literatura sa.