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Como ofensiva antidiversidade de Trump afeta empresas alemãs

31/05/2025 14h14

Como ofensiva antidiversidade de Trump afeta empresas alemãs - Gigantes que atuam nos EUA, como Volkswagen e Deutsche Telekom, seguem coorporações americanas e adaptam suas políticas de inclusão para se adequar à ofensiva da Casa Branca.A ofensiva do presidente dos EUA, Donald Trump, contra políticas de "diversidade, equidade e inclusão" (conhecidas como DEI) levou corporações americanas como Meta, Ford, Starbucks e Boeing a reduzirem seus programas antidiscriminação após a eleição do republicano.

O presidente argumenta que políticaschamadas por ele de "woke", como a DEI, discriminam homens brancos de meia-idade. Nos primeiros dias de seu segundo mandato, ele assinou uma ordem executiva encerrando programas de diversidade e inclusão em instituições federais. Outra ordem rotula as iniciativas deste tipo no setor privado como discriminatórias.

Isso ampliou a pressão para empresas alemãs se adequarem à nova orientação federal, sob temor de perderem contratos com o governo americano. Até mesmo aprovações de fusões podem ser afetadas com base na nova compreensão de "discriminação".

A montadora Volkswagen e a gigante das telecomunicações Deutsche Telekom, por exemplo, anunciaram planos para reduzir ou encerrar suas iniciativas de diversidade nos EUA.

A aquisição da operadora de cabo Lumos pela T-Mobile US, subsidiária da Deutsche Telekom, foi aprovada no dia seguinte ao corte dos programas de diversidade da empresa. A fabricante de software SAP também abandonou as cotas de gênero para seus postos de trabalho na Alemanha.

Sentimento de "agora mais do que nunca" na Alemanha

A pressão contra políticas de inclusão não atinge todas as empresas alemãs, que dizem manter seus programas de incentivo à diversidade no mercado de trabalho.

Uma pesquisa realizada no fim de abril pela maior iniciativa da Alemanha por políticas DEI, a Charta der Vielfalt, indica que 90% das empresas e instituições que já am a carta pretendem continuar com seus programas de diversidade.

Cawa Younosi, diretor-geral da iniciativa, disse que mais de 800 empresas manifestaram intenção de também a carta e se comprometer com políticas de inclusão. Hoje cerca de 6 mil entidades já apoiam a iniciativa.

Por ocasião do Dia da Diversidade na Alemanha, realizado neste ano em 27 de maio, um número semelhante de empresas já havia se pré-inscrito para participar, contou Younosi à DW.

"Se você olhar além dos grandes nomes, pode realmente sentir um sentimento de 'agora mais do que nunca' na Alemanha", disse ele.

Segundo a agência de notícias alemã dpa, diversas empresas do país como a montadora BMW e a companhia de produtos químicos Henkel afirmaram estar acompanhando de perto a situação.

O conglomerado de engenharia Siemens, por exemplo, declarou que atualmente "não há necessidade de alterar nossos esforços por equipes diversas e um ambiente de trabalho inclusivo devido aos acontecimentos recentes".

Outras empresas europeias, como a varejista britânica de cosméticos Lush, estão adotando uma postura abertamente desafiadora. "A Lush não está cedendo a essa pressão — na verdade, o contrário. Vemos isso como motivação para tornar nossa posição ainda mais visível", afirmou a empresa ao ser questionada pela DW. "DEI está no centro da nossa identidade corporativa", completou.

Segundo Younosi, vários executivos de alto escalão disseram estar mais preocupados com o fato de suas operações nos EUA sofrerem por serem empresas europeias, do que por apoiarem programas de DEI.

Qual é a situação nas empresas dos EUA?

Desde 1964, a lei dos EUA proíbe discriminação no local de trabalho com base em raça, religião, sexo, cor ou origem nacional. Desde então, as empresas têm trabalhado para promover a diversidade e combater a discriminação.

O conceito de DEI cresceu nos EUA nas últimas décadas – principalmente após o assassinato de George Floyd por policiais em 2020 e os protestos que se seguiram.

Ao assumir a Casa Branca, porém, Trump assinou decretos que desmantelaram programas federais de equidade e inclusão, postura que foi seguida principalmente por grandes corporações.

Neste grupo, o apoio à DEI vem diminuindo cada vez mais desde a posse do republicano.

Segundo um relatório do Financial Times de março, cerca de 90% das 400 maiores empresas do índice S&P 500 que apresentaram relatórios anuais removeram ao menos uma referência à DEI após a eleição de Trump. Muitas omitiram completamente o termo, substituindo-o por expressões como "inclusão", "pertencimento" ou "ambiente em que todos os colaboradores se sintam à vontade".

Apesar da reação contrária, outras empresas se mantém comprometidas com a inclusão. A Apple, por exemplo, continua promovendo uma cultura corporativa diversa.

"Porque não somos todos iguais. E isso continua sendo uma das nossas maiores forças", diz o site da Apple — uma mensagem apoiada por quase todos os acionistas na reunião anual da empresa.

A gigante de software Microsoft e a varejista de atacado Costco Wholesale também reafirmaram seu apoio aos programas de inclusão.

O impacto de políticas específicas para diversidade

O CEO da SAP, Christian Klein, afirmou que planeja manter as iniciativas de diversidade dentro da empresa, mesmo tendo abandonado as cotas de gênero. "O que importa, no fim das contas, é o que realmente fazemos para promover a diversidade", disse ele à DW.

Contudo, especialistas acreditam que a ausência de programas e políticas dedicadas à inclusão deve impactar o mercado de trabalho.

Siri Chilazi, pesquisadora de equidade de gênero na Universidade Harvard, disse recentemente à BBC que "não há precedentes históricos que sugiram que os desequilíbrios raciais e de gênero se corrigem por conta própria".

Mesmo a inclusão prevista em lei não é sempre seguida. Em 2024, o Barômetro de Inclusão no Trabalho, elaborado pela ONG Aktion Mensch em parceria com o instituto de pesquisa do jornal alemão Handelsblatt, constatou que uma em cada quatro empresas alemãs não emprega sequer uma pessoa com deficiência.

A lei alemã, porém, exige que empresas com 20 ou mais funcionários preencham ao menos 5% de seus cargos com pessoas com deficiência. As empresas podem evitar essa obrigação pagando uma taxa compensatória, o que gera receita adicional para o Estado, mas não cria empregos.

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