Agricultores da UE alertam sobre acordos comerciais com Mercosul e Ucrânia
Por Sybille de La Hamaide e Inti Landauro
PARIS/MADRI (Reuters) - Agricultores ses e espanhóis alertaram, nesta quarta-feira, que uma enxurrada de importações decorrente dos acordos comerciais planejados pela União Europeia com o Mercosul e a Ucrânia pode prejudicar seriamente a agricultura europeia.
As preocupações foram reforçadas antes de uma visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França e da expiração, na quinta-feira, de um acordo de livre comércio da UE com a Ucrânia, que deve mudar para cotas de importação.
Lula disse na terça-feira que discutiria o acordo UE-Mercosul com o presidente francês, Emmanuel Macron, um forte crítico do acordo, que foi finalizado em dezembro, mas ainda precisa da aprovação dos Estados-membros.
Em uma reunião com parlamentares, grupos de agricultores ses pediram a Macron que reunisse parceiros suficientes para formar uma minoria de bloqueio contra o acordo UE-Mercosul, que, segundo eles, seria devastador para os setores de carne bovina, aves e açúcar e comprometeria as ambições da UE em termos de soberania alimentar.
"Seria uma verdadeira tragédia para o nosso setor", disse Alain Carre, chefe do grupo do setor açucareiro francês AIBS. "Estamos soando o alarme".
No ano ado, os agricultores ses realizaram protestos em todo o país por causa da renda baixa, do aumento dos custos e da concorrência de importações baratas, principalmente da Ucrânia e dos países do Mercosul, exigindo termos comerciais mais justos e menos regulamentação.
"Nossas exigências (para um acordo entre a UE e o Mercosul) são simples: reciprocidade de regras, rastreabilidade no exterior e rotulagem muito mais clara", disse Jean-Michel Schaeffer, chefe do grupo do setor avícola francês Anvol.
Na Espanha, algumas centenas de agricultores protestaram em Madri contra as importações de grãos baratos da Ucrânia e de outros países, dizendo que os preços caíram abaixo dos custos de produção.
Os agricultores espanhóis provavelmente perderão 1 bilhão de euros este ano, disse Javier Fatas, líder do sindicato de agricultores COAG, da região de Aragão, no nordeste da Espanha.
"Acontece por causa dos acordos comerciais assinados pela Espanha e pela UE como parte da geopolítica, que nos trazem preços baixos demais para sustentar nossas fazendas", disse Fatas.
Ele alertou que os grãos geneticamente modificados do Mercosul também criaram uma concorrência desleal, ecoando as preocupações dos agricultores ses.
O protesto de quarta-feira foi pacífico, mas foi apenas o começo, acrescentou. "Tempos ruins estão chegando".
(Reportagem de Sybille de La Hamaide, em Paris, e Inti Landauro e Susana Vera, em Madri)