Crise devastadora no Sudão após mais de dois anos de guerra e 4 milhões de refugiados
Mais de quatro milhões de pessoas fugiram do Sudão desde o início da guerra em 2023, informou a ONU nesta terça-feira (3), citando um "marco devastador". O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu investigação urgente de um ataque contra um comboio humanitário no oeste do país, que matou cinco pessoas ontem.
Os combates dividiram o país em dois, com o Exército controlando o centro, o leste e o norte, e os paramilitares e seus aliados controlando quase toda Darfur e partes do sul.
Segundo o ACNUR, a agência da ONU para refugiados, se a guerra continuar, o fluxo de pessoas poderá ameaçar a "estabilidade global e regional".
"Quatro milhões de pessoas fugiram do Sudão para países vizinhos desde o início da guerra, que já está em seu terceiro ano", disse a porta-voz do ACNUR, Eujin Byun, em uma coletiva de imprensa em Genebra.
"Este é um marco devastador porque se trata da crise de deslocamento mais catastrófica do mundo", acrescentou.
Dados da ONU mostram que, até segunda-feira, 4.003.385 pessoas fugiram do Sudão como refugiadas, solicitantes de asilo e repatriadas.
Destas, 1,5 milhão fugiram para o Egito; mais de 1,1 milhão fugiram para o Sudão do Sul, das quais quase 800.000 eram pessoas que haviam fugido daquele país para buscar refúgio no Sudão; e mais de 850.000 buscaram refúgio no Chade.
"Esses civis fogem em meio ao terror, muitos sob fogo, ando por postos de controle armados, extorsões e duras restrições impostas por grupos armados", disse Patrice Ahouansou, coordenadora principal do ACNUR no Chade.
O ACNUR fez um apelo à comunidade internacional para "se conscientizar e agir a fim de erradicar os graves abusos de direitos humanos que ocorrem no Sudão".
Ahouansou também pediu "mais financiamento" para ajudar a população deslocada com a "rapidez" necessária.
Ataque contra comboio humanitário
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu uma "investigação urgente" do trágico ataque contra um comboio que levava ajuda humanitária para El Facher, cidade sitiada no oeste do Sudão, que deixou cinco mortos e vários feridos, informou na terça-feira (3) seu porta-voz.
"Devem cessar todos os ataques contra o pessoal de atendimento humanitário, suas instalações e veículos (...) Pedimos uma investigação urgente e que os autores sejam responsabilizados", declarou o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric.
Embora a autoria do ataque seja desconhecida, Dujarric afirmou que parece "muito provável" que tenha sido realizado com drones.
Vários dos 15 caminhões do comboio que transportava ajuda alimentar vital para as famílias afetadas pela fome em El Facher foram incendiados perto de Koma, em Darfur do Norte, segundo um comunicado conjunto do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e do Unicef.
O comboio, composto por veículos dessas duas organizações da ONU, aguardava autorização para completar sua viagem a El Facher, após percorrer mais de 1.800 km desde Port Sudan, indicou a mesma fonte.
O general Abdel Fattah al Burhane e seu antigo adjunto, Mohamed Hamdane Daglo, chefe de forças paramilitares, se acusam mutuamente de terem perpetrado o atentado em Koma.