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Só um país consegue produzir alimento suficiente para sua população

Georgetown, na Guiana - Getty Images
Georgetown, na Guiana Imagem: Getty Images
do UOL

Colaboração para o UOL

05/06/2025 05h30

Uma pesquisa conduzida por especialistas da Universidade de Göttingen, na Alemanha, e da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, concluiu que apenas um país apresenta autossuficiência no que diz respeito à produção de alimentos para a própria população. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Nature Food em maio.

O que aconteceu

Somente a Guiana alcança a autossuficiência para todos os grupos alimentares. Vizinha do Brasil, a Guiana faz fronteira com Roraima e Pará. O território guianês também faz fronteira com o Suriname e a Venezuela.

Estudo avaliou o consumo em gramas per capita por dia de 187 países, com base em informações de 2020. Para laticínios, a quantidade de nações avaliadas foi de 186. Foi considerada a produção doméstica dos seguintes alimentos: frutas; vegetais; laticínios; peixes; carne; proteínas vegetais (como leguminosas, sementes, castanhas e nozes); e alimentos básicos ricos em amido, como arroz, batatas e trigo.

Pesquisadores analisaram a disponibilidade de alimentos provenientes da produção doméstica comparada à ingestão recomendada. Esta abordagem de dieta usada foi a Livewell, promovida por organizações como o WWF, busca alternativas para uma alimentação saudável e sustentável. Além de visar benefícios às pessoas, a dieta busca reduzir o impacto no clima e na natureza. Entre as indicações da dieta, está o consumo de frutas, vegetais, leguminosas e grãos integrais; moderação no consumo de carne, laticínios e ovos; e diminuição de consumo de produtos ricos em gordura, sal e açúcar.

Segundo o estudo, mais de um terço dos países não consegue atingir a autossuficiência em mais de dois dos sete grupos alimentares essenciais. Entre os países analisados, 154 conseguem atender nacionalmente aos requisitos de dois a cinco dos sete grupos alimentares da dieta Livewell.

Seis países não atendem às necessidades de nenhum grupo alimentar. São eles: Afeganistão, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque e Região istrativa Especial de Macau (região autônoma ligada à China).

Mapas indicam a produção dos países em diferentes grupos alimentares - Divulgação/Nature Food - Divulgação/Nature Food
Mapas indicam a produção dos países em diferentes grupos alimentares
Imagem: Divulgação/Nature Food

Mais de um terço de todos os países alcançam a autossuficiência para dois ou menos grupos alimentares. Segundo o levantamento, 25 destes países estão na África; dez estão no Caribe; sete estão na Europa. "Apenas um em cada sete países alcança a autossuficiência em cinco ou mais grupos alimentares, a maioria na Europa e América do Sul", diz o estudo.

China e Vietnã têm produção suficiente em seis dos sete grupos principais. Ambos os países não têm produção suficiente em laticínios, conforme o estudo. Os países africanos também enfrentam desafios na produção de laticínios, juntamente com a Oceania. Menos da metade das nações avaliadas atinge a autossuficiência em laticínios, mas todos os países europeus conseguem atender às suas necessidades de laticínios de forma independente.

Na pecuária, a autossuficiência é relativamente alta, segundo o estudo. 65% dos países produzem carnes em excesso em comparação com as necessidades alimentares de suas próprias populações, enquanto a África Subsaariana enfrenta "déficits consideráveis" neste grupo alimentar.

Brasil tem produção insuficiente em dois grupos alimentares

Brasil não tem produção suficiente em vegetais e peixes. "A autossuficiência em peixes e frutos do mar é particularmente baixa na maioria das regiões, com apenas 25% alcançando a suficiência, incluindo a Rússia e os países da região do Pacífico", diz o estudo. Globalmente, 60% dos países não conseguem cobrir metade de suas necessidades neste grupo alimentar.

América do Sul apresenta bom desempenho na produção nacional de frutas. "Os países do Norte da Europa não conseguem cobrir nem metade de suas necessidades de frutas", diz o estudo. A autossuficiência em hortaliças é alta no Mediterrâneo e na Ásia Central, mas 91% dos países da África Subsaariana não alcançam esse nível. O Norte da Europa, a América do Sul e o Caribe também enfrentam dificuldades na produção de hortaliças para os respectivos cidadãos.

Apesar de apontar eventuais alertas em relação à alimentação de determinado país, a baixa autossuficiência não é, necessariamente, ligada à riqueza daquela nação. "Existem razões válidas e frequentemente benéficas pelas quais um país pode não produzir a maior parte dos alimentos de que necessita", disse Jonas Stehl, pesquisador de Göttingen e principal autor do estudo, à BBC Science Focus. Um país pode não ter chuva suficiente, solo de boa qualidade ou temperaturas estáveis para cultivar alimentos suficientes para sua população, por exemplo.

Pode ser economicamente viável importar alimentos de regiões mais adequadas. "No entanto, baixos níveis de autossuficiência podem reduzir a capacidade de um país de responder a choques repentinos no fornecimento global de alimentos, como secas, guerras ou proibições de exportação", explicou o especialista. Segundo o levantamento, essa dificuldade de reação é observada especialmente em nações pequenas, em territórios compostos por uma ilha ou por um conjunto de ilhas, e em países com baixa renda.

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