Trump ameaça cortar contratos de Musk enquanto explode disputa sobre lei de redução de impostos
Por Nandita Bose e Jarrett Renshaw
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou nesta quinta-feira cortar contratos governamentais com as empresas de Elon Musk, enquanto o bilionário sugeriu que o republicano deveria sofrer impeachment, com a amizade entre os dois se desintegrando como em uma briga de bar.
Trump deu início à discussão com comentários no Salão Oval. Musk respondeu rapidamente com postagens em sua rede social X, e em poucas horas ambos estavam trocando farpas em suas respectivas plataformas.
"A maneira mais fácil de economizar dinheiro em nosso Orçamento, bilhões e bilhões de dólares, é encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon", escreveu Trump na rede Truth Social.
A disputa derrubou as ações da Tesla, fabricante de veículos elétricos de Musk, que perderam cerca de US$150 bilhões em valor, fechando o dia em queda de 14,3%.
Minutos após o sino de encerramento da bolsa norte-americana, Musk respondeu "Sim" a uma postagem no X dizendo que Trump deveria sofrer impeachment.
Os republicanos de Trump detêm maioria em ambas as câmaras do Congresso e é altamente improvável que o impeachment seja aprovado.
A confusão entre os dois se agravou ao longo da semana. Na terça-feira, Musk começou a denunciar o abrangente projeto de lei de corte de impostos e gastos de Trump. O presidente se conteve enquanto Musk, seu ex-assessor, fazia campanha para torpedear o projeto, dizendo que ele aumentaria muito a dívida de US$36,2 trilhões do país.
Trump quebrou o silêncio nesta quinta-feira, dizendo a repórteres no Salão Oval que estava "muito decepcionado" com Musk.
"Olha, Elon e eu tínhamos um ótimo relacionamento. Não sei se teremos mais", disse Trump.
Enquanto Trump falava, Musk respondeu com postagens cada vez mais ácidas no X.
"Sem mim, Trump teria perdido a eleição", postou Musk. "Que ingratidão."
Além da Tesla, os negócios de Musk incluem a empresa de foguetes SpaceX, que tem contratos com o governo, e sua unidade de satélites Starlink. O bilionário gastou quase US$300 milhões nas eleições de 2024 em apoio a Trump e outros candidatos republicanos.
Musk, cujo negócio desempenha um papel crucial no programa espacial do governo dos EUA, disse que, em decorrência das ameaças de Trump, planejava começar a desativar a nave espacial Dragon, da SpaceX. A Dragon é a única nave espacial norte-americana capaz de enviar astronautas à Estação Espacial Internacional.
Os foguetes Falcon 9, baratos e reutilizáveis, da SpaceX a tornaram a provedora de lançamentos mais ativa do mundo. Sua vasta rede Starlink revolucionou o mercado global de comunicações via satélite.
ALIADO SEMPRE PRESENTE
Depois de atuar como o maior doador republicano na campanha eleitoral de 2024, Musk se tornou um dos conselheiros mais visíveis de Trump, como chefe do Departamento de Eficiência Governamental, realizando um amplo esforço para reduzir a força de trabalho federal e cortar gastos.
Musk estava frequentemente presente na Casa Branca e fez diversas aparições no Capitólio, às vezes carregando seu filho pequeno.
Apenas seis dias antes da explosão desta quinta-feira, Trump e Musk fizeram uma aparição conjunta no Salão Oval, na qual Trump elogiou o serviço de Musk ao governo e ambos prometeram continuar trabalhando juntos.
Uma disputa prolongada entre Trump e Musk pode dificultar a manutenção do controle do Congresso pelos republicanos nas eleições de meio de mandato do próximo ano. Além dos gastos de campanha, Musk tem um grande número de seguidores online e ajudou a conectar Trump a partes do Vale do Silício e a doadores ricos.
Musk já havia dito que planejava reduzir seus gastos políticos no futuro.
Logo após os comentários de Trump no Salão Oval, Musk questionou seus 220 milhões de seguidores no X: "Será que chegou a hora de criar um novo partido político na América que realmente represente os 80% do meio?"
"MATE O PROJETO"
Os ataques contundentes de Musk nesta semana tiveram como alvo o que Trump chama de seu "grande e belo projeto de lei". Musk o chamou de "abominação repugnante", dizendo que aumentaria o déficit federal, e suas postagens ampliaram uma divisão dentro do Partido Republicano que pode ameaçar as perspectivas do projeto no Senado.
Analistas apartidários dizem que o projeto de lei de Trump pode adicionar de US$2,4 trilhões a US$5 trilhões à dívida de US$36,2 trilhões do país.
Trump afirmou que Musk realmente se opôs à eliminação, pelo presidente, dos créditos fiscais ao consumidor para veículos elétricos.
Trump também sugeriu que Musk estava chateado porque sentia falta de trabalhar para o presidente.
"Ele não é o primeiro", disse Trump nesta quinta-feira. "As pessoas deixam meu governo... e, em algum momento, sentem muita falta dele, e algumas o acolhem e outras se tornam hostis."
Musk escreveu no X, "MATE o PROJETO DE LEI", acrescentando que estava satisfeito com os cortes planejados por Trump nos créditos para veículos elétricos, desde que os republicanos livrassem o projeto de lei da "montanha de carne de porco nojenta" ou dos gastos desnecessários.
Ele também lembrou de citações anteriores de Trump criticando o nível de gastos federais, acrescentando: "Onde está esse cara hoje?"
Enquanto isso, Trump postou no Truth Social que Musk "enlouqueceu".
Musk assumiu o governo com planos ousados de cortar US$2 trilhões do orçamento federal. Ele saiu na semana ada tendo cortado apenas 0,5% do gasto total.
O departamento eliminou milhares de empregos federais e cortou bilhões de dólares em ajuda externa e outros programas, causando interrupções nas agências federais e alimentando uma onda de desafios legais.
O foco crescente de Musk na política provocou protestos generalizados nas unidades da Tesla nos EUA e na Europa, reduzindo as vendas, enquanto os investidores se preocupavam com a possibilidade de a atenção de Musk estar muito dividida.
Após os comentários de Trump, um funcionário da Casa Branca destacou a mudança na dinâmica entre Musk e Trump.
"O presidente está deixando claro: esta Casa Branca não está subordinada a Elon Musk em termos de políticas", disse a autoridade. "Ao atacar o projeto de lei da forma como o fez, Musk claramente escolheu um lado."
(Reportagem de Nandita Bose e Andrea Shalal; reportagem adicional de Jeff Mason, Joey Roulette e Jarrett Renshaw; texto de Joseph Ax)