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Fogo faz desmatamento na Amazônia em maio subir 92% em relação a 2024

Amazônia brasileira vem assistindo a uma escalada no número de focos de incêndio nos últimos anos - Evaristo Sa/AFP
Amazônia brasileira vem assistindo a uma escalada no número de focos de incêndio nos últimos anos Imagem: Evaristo Sa/AFP
do UOL

Patrícia Junqueira

De Ecoa, em São Paulo

06/06/2025 12h49

O Brasil registrou aumento de 92% no desmatamento da Amazônia em maio de 2025 em relação a maio de 2024. A alta está diretamente relacionada às mudanças climáticas e aos incêndios que atingiram o país no segundo semestre de 2024, de acordo com o secretário-executivo e ministro substituto João Paulo Capobianco. "A Amazônia tem sofrido de forma particularmente intensa e impressionante", afirmou em coletiva para divulgação dos dados.

O que aconteceu?

Alta do desmatamento na Amazônia em relação ao mesmo período de 2024. Segundo dados do Deter (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram desmatados 960 quilômetros quadrados em maio de 2025 no bioma, contra 500 quilômetros quadrados em 2024, uma alta de 92%. De agosto de 2024 a maio de 2025, a alta foi menor, de 9,1%, em relação ao período anterior.

Impacto sem precentes das queimadas no desmatamento da Amazônia. Os dados do Deter mostram que 51% da área desmatada na Amazônia resulta das queimadas provocados pela seca severa que atingiu a região em 2023 e 2024. "Esse número não é desmatamento ocorrido em maio, mas uma floresta que chega agora como floresta colapsada", explicou o ministro substituto.

Mudança na trajetória histórica. Os dados mostram uma nova realidade devido às mudanças climáticas. O foco dos levantamentos sempre foi na remoção das florestas, o chamado corte raso, porque os índices de fogo e mineração não tinham impacto tão relevante, explicou Capobianco. "Agora isso mudou", completou. Entre agosto de 2024 e maio de 2025, 23,7% dos focos de calor na Amazônia ocorreram em vegetação nativa, enquanto no mesmo período do ano anterior esse índice foi de 13,5%.

Incêndios superam o corte raso, que era historicamente nosso maior problema. Isso abre uma situação nova que tem a ver diretamente com o agravamento do quadro climático. Esse é um fato inquestionável. João Paulo Capobianco, ministro substituto do Meio Ambiente

Gráfico mostra participação de incêndios no desmatamento da Amazônia nos meses de maio - Divulgação/Ministério do Meio Ambiente  - Divulgação/Ministério do Meio Ambiente
Gráfico mostra participação de incêndios no desmatamento da Amazônia nos meses de maio
Imagem: Divulgação/Ministério do Meio Ambiente

Vegetação natural é a mais afetada. Da área queimada, 47,95% correspondem à vegetação natural primária, e 7,91% são de vegetação natural secundária. "É uma realidade impressionante, pois estamos entrando num ciclo novo. Tínhamos a expectativa de que a floresta tropical úmida não seria vitima, no entanto estamos assistindo uma situação dramática no Brasil", disse Capobianco.

Quadro não é exclusivo do Brasil. O ministro citou o recente relatório da plataforma Global Forest Watch da ONG ambientalista WRI (World Resources Institute) segundo o qual incêndios em grande escala agravados pela mudança climática levaram a uma perda global recorde de florestas em 2024.

Colapso florestal. "Talvez a gente esteja um pouco distante da porta do Inferno", disse Osvaldo Moraes, diretor para área de clima e sustentabilidade do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação). Ele explicou que a falta de chuvas que atingiu a Amazônia no último ano representa 30% do que normalmente chove na região, mas que essa anomalia está acelerando. "Essa aceleração é que vai levar a uma questão de sustentabilidade da floresta, que é consequência das ações antrópicas. Esse é o principal recado que a ciência nos dá", completou.

Redução do desmatamento no Cerrado e no Pantanal. Além dos dados da Amazônia, foram apresentados dados para maio de outros dois biomas. O Cerrado perdeu 885 quilômetros quadrados no mês, uma queda de 15% em relação a 2024. No Pantanal houve recuo de 65%.

Repercussão

'Ritmo incompatível com esta emergência climática'. Para Alexandre Prado, líder em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, "apesar de todos os avanços importantes que o Brasil vem fazendo no combate ao desmatamento, as consequências das mudanças climáticas já estão evidentes na Amazônia, com secas extremas que aumentam os incêndios florestais. Estamos perdendo centenas de quilômetros quadrados de floresta por mês — um ritmo incompatível com esta emergência climática que vivemos."

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