Rússia amplia ofensiva à região ucraniana de Dnipropetrovsk
A Rússia anunciou neste domingo (8) que ampliou sua ofensiva à região ucraniana de Dnipropetrovsk, na primeira vez em mais de três anos de guerra que os russos fazem uma incursão por essa região, uma escalada que coincide com a estagnação das negociações sobre o conflito.
Autoridades ucranianas não comentaram a informação, que, se confirmada, representaria um revés importante para as tropas de Kiev, que enfrentam há meses dificuldades na linha de frente do confronto.
"As unidades da 90ª divisão blindada (...) alcançaram a fronteira oeste da República Popular de Donetsk e continuam sua ofensiva no território da região de Dnipropetrovsk", anunciou o Exército no Telegram, recorrendo ao nome que Moscou utiliza para a região de Donetsk, que está em grande parte ocupada pela Rússia.
Os avanços das tropas de Moscou podem ter um valor estratégico no campo de batalha, no momento em que os esforços diplomáticos promovidos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para tentar encontrar uma solução para o conflito estão paralisados.
Analistas acreditam que os russos poderiam tentar seguir com o avanço na região para dificultar o dispositivo de defesa ucraniano na frente leste.
- 'Nova realidade' -
Antes da invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022, quase 3 milhões de pessoas viviam na região de Dnipropetrovsk, um milhão delas na capital regional, Dnipro, alvo frequente de bombardeios russos com drones e mísseis.
Milhares de ucranianos, refugiados das regiões vizinhas de Donetsk e Luhansk, seguiram para Dnipropetrovsk após a invasão das tropas russas.
O ex-presidente russo Dmitri Medvedev, que tem o cargo de vice-presidente do Conselho de Segurança Nacional, afirmou que a ofensiva é um alerta para a Ucrânia.
"Aqueles que não querem reconhecer a realidade da guerra nas negociações enfrentarão uma nova realidade no campo de batalha", declarou Medvedev nas redes sociais.
Para Oleksandr, um tenente-coronel ucraniano que está na localidade de Mezhova, a cerca de 12 km da fronteira entre as regiões de Dnipropetrovsk e Donetsk, a entrada dos russos não vai mudar a dinâmica da batalha.
"Eles avançam lentamente, muito lentamente, mas avançam", declarou à AFP o militar de 60 anos. "Podem dizer que toda a Ucrânia lhes pertence. Dizer isso é uma coisa. Mas não acredito que mude radicalmente a situação. Nossa resistência continuará".
- Troca de prisioneiros na próxima semana -
O anúncio do avanço é feito no momento em que Moscou e Kiev acusam-se mutuamente de dificultar uma troca de prisioneiros que seria concluída neste fim de semana. O chefe da inteligência militar ucraniano, Kirilo Budanov, disse que a troca vai acontecer na semana que vem.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou hoje a Rússia de tentar praticar "jogos sujos, políticos e de desinformação". Se Moscou não cumprir o acordo para libertar mais de 1.000 soldados, "haverá dúvidas" sobre os esforços diplomáticos para pôr fim à guerra, declarou.
A troca de prisioneiros foi o único resultado concreto das negociações diretas realizadas na semana ada em Istambul. As conversas entre Kiev e Moscou, promovidas por Washington, não permitiram uma aproximação das posições para alcançar uma trégua e, muito menos, para encerrar mais de três anos de conflito.
A delegação russa entregou a Kiev uma lista de exigências, incluindo a retirada de suas forças de quatro regiões - Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia - cuja anexação Moscou reivindica, apesar de não controlar as áreas em sua totalidade.
Moscou também exige que a Ucrânia desista do processo de adesão à Otan e limite o seu contingente militar, condições que Kiev considera inaceitáveis.
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