Alta do IPCA desacelera mais que o esperado em maio antes de reunião do BC
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inflação no Brasil desacelerou mais do que o esperado em maio tanto na base mensal quanto no acumulado em 12 meses, com os custos dos alimentos e dos transportes compensando o aumento da energia elétrica a uma semana da próxima reunião de política monetária do Banco Central.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,26% em maio, de avanço de 0,43% em abril, ando a acumular em 12 meses alta de 5,32%, contra 5,53% antes.
Os resultados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficaram abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters de avanços de 0,33% no mês e de 5,40% em 12 meses.
Embora o acumulado em 12 meses até maio tenha mostrado desaceleração, ainda segue bem acima da meta de 3,0% medida pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O Banco Central volta a se reunir na próxima semana para decidir sobre a taxa básica de juros, atualmente em 14,75% ao ano.
Pesquisa Focus divulgada na véspera mostra que a expectativa do mercado é de que a inflação encerre este ano a 5,44%, com a Selic se mantendo no patamar atual. A curva de juros futuros também mostra apostas majoritárias em manutenção na próxima quarta-feira.
Já Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, mantém a expectativa de alta de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ressaltando: "Caso os próximos dados mostrem um comportamento mais benigno, especialmente em relação à atividade econômica e ao mercado de trabalho, é possível que o ciclo de alta de juros tenha chegado ao fim".
Diante das expectativas de inflação desancoradas, o BC deve manter a taxa básica de juros em patamar restritivo por um tempo, em meio ainda a uma economia resiliente e mercado de trabalho aquecido.
ENERGIA X ALIMENTOS
O destaque no IPCA de maio foi a alta de 3,62% da energia elétrica, após recuo de 0,08% em abril, levando os custos do grupo Habitação a subirem 1,19% no mês, devido à mudança na bandeira tarifária.
No final de abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que as contas de luz teriam bandeira tarifária amarela no mês de maio, o que impõe um custo extra de R$1,885 a cada 100 kWh consumidos.
O cenário deve piorar em junho, uma vez que a bandeira será vermelha patamar 1 neste mês, com cobrança adicional de R$4,46 a cada 100 kW/h consumidos.
No entanto, essa pressão foi compensada na leitura do índice geral pelos resultados registrados em alimentos e transportes. Os três grupos têm um peso de 57% no IPCA, de acordo com o IBGE.
O grupo Alimentação e bebidas desacelerou a alta a 0,17% em maio, de 0,82% em abril, marcando a menor variação mensal desde agosto de 2024.
A alimentação no domicílio saiu de uma alta de 0,83% em abril para 0,02% em maio, com quedas nos preços de tomate (-13,52%), arroz (-4,00%), ovo de galinha (-3,98%) e frutas (-1,67%).
“A queda nos preços do tomate pode ser explicada por um aumento da oferta devido ao avanço na safra de inverno", explicou o gerente da pesquisa, Fernando Gonçalves.
Já o grupo Transportes registrou queda de 0,37% em maio, com destaque para os recuos na agem aérea (-11,31%) e combustíveis (-0,72%). Todos os combustíveis pesquisados apresentaram deflação em maio: óleo diesel (-1,30%), etanol (-0,91%), gás veicular (-0,83%) e gasolina (-0,66%).
“A queda nas agens aéreas se deve por ser um período entre as férias de final e início de ano e as do meio do ano, quando as companhias aéreas costumam baixar os preços", disse o gerente da pesquisa no IBGE.
Ponto de atenção do BC, a inflação de serviços teve pouca alteração ao desacelerar a alta a 0,18% em maio, de 0,20% em abril.
Em 12 meses, no entanto, a inflação de serviços ainda chega a 5,80%, acima da taxa do IPCA nessa base de comparação, em meio a um mercado de trabalho aquecido e renda maior.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, recuou em maio a 60%, de 67% no mês anterior.
"Além do resultado quantitativo positivo, tivemos um bom qualitativo da inflação. O núcleo, medida que exclui os itens mais voláteis como alimentos e energia, desacelerou de 0,5% em abril para 0,3% em maio, o menor valor desde setembro de 2024. A inflação de serviços recuou entre todas as principais medidas, com exceção dos istrados, refletindo o aumento no custo da energia elétrica", destacou André Valério, economista sênior do Inter, que também vê alta de 0,25 ponto na Selic na próxima semana.