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Turbi mira além de aluguel de carros e prevê dobrar receita e ter lucro em 2025

11/06/2025 09h07

SÃO PAULO (Reuters) - A locadora de carros Turbi, uma das poucas sobreviventes entre as empresas que surgiram no Brasil nos últimos anos com promessas de revolucionar o setor com serviços digitalizados, espera atingir o lucro líquido no final deste ano com ajuda de expansão de frota, enquanto trabalha em serviços que incluem até mesmo a oferta de sua tecnologia a terceiros.

A empresa criada em 2017 por Daniel Prado e Diego Lira é focada na região metropolitana de São Paulo e não tem lojas de aluguel: os carros ficam disponíveis em estacionamentos terceiros que funcionam 24 horas e estão espalhados pela cidade. Os clientes podem alugar os veículos por hora e o serviço é uma alternativa a aplicativos de transporte urbano por aplicativo como Uber e 99.

A Turbi afirma ser atualmente a quarta maior do setor de locação de veículos do Brasil, atrás das gigantes Localiza, Movida e Unidas.

A empresa atualmente tem um prejuízo mensal entre R$2 milhões e R$3 milhões, mas com a expansão da frota de 6 mil para 10 mil em 2025 a expectativa é "termos lucro líquido até o final do ano", disse Prado em entrevista à Reuters. Atualmente, a Turbi tem um resultado de "break even", ou equilíbrio, em nível recorrente no desempenho operacional, afirmou.

"Se a Selic estivesse num patamar normalizado, de uns 12%, a gente já estaria com lucro", disse o executivo.

Apesar de ser a quarta maior, a distância da Turbi para as maiores empresas do setor é enorme. Enquanto a companhia fundada por Prado e Lira tem atualmente 6 mil carros, a frota da Localiza a dos 620 mil e a da Movida beira os 260 mil, segundo números do final do primeiro trimestre. O mercado de locação no Brasil é bem pulverizado, tem cerca de 31,5 mil empresas em atuação, segundo a associação do setor, Abla.

O crescimento tem permitido à Turbi fazer captações de recursos para investimento em frota, que deixou de ser alugada junto a operadoras médias - como Marbor, Osten e Flua - para ser sublocada aos clientes. Prado comentou que atualmente 100% da frota da empresa é própria, o que melhora uma margem Ebitda que encerrou o primeiro trimestre em 59%. "Chegamos a ter 3.000 carros alugados", afirmou.

O executivo citou que as captações de recursos somaram R$100 milhões em 2023, R$500 milhões em 2024 e este ano há "expectativa de mais de R$1 bilhão", montante que chegou a ser suspenso quando o governo publicou decreto que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

"Até agora, todas as emissões da Turbi foram feitas via debêntures, que não têm incidência de IOF. Mas o grande ponto é que estamos explorando produtos bancários normais como CCBs (Cédula de Crédito Bancário) para compras de carros, essas, sim, são fortemente impactadas pelo o que o governo trouxe", disse Prado.

A Turbi "tinha duas ou três operações (de captação de recursos) em andamento e freamos" com o decreto do IOF, afirmou o executivo. "Com o governo voltando atrás, isso facilitaria nossa vida e a vida de todo mundo. Vamos voltar com essas operações", acrescentou.

O montante de R$1 bilhão é suficiente para aquisição de cerca de 12 mil carros neste ano, mas a "ambição é bem maior", segundo Prado. "É de sermos um negócio de 50 mil a 100 mil carros no futuro."

TELEMETRIA

A Turbi trabalha com um sistema proprietário de hardware e software que faz a telemetria dos veículos sob aluguel e permite que os carros tenham até a ignição cortada em caso de suspeita de roubo do carro, disse Prado. No cadastro, a empresa chega a cruzar dados de localização da residência indicada pelo cliente com de serviços de entrega para confirmar a veracidade das informações, afirmou.

Esse sistema, disse o executivo, será oferecido a outras locadoras de veículos, o que deve abrir uma nova frente de receitas para uma empresa que espera atingir um faturamento de R$550 milhões a R$600 milhões em 2025, o dobro da receita obtida em 2024.

"O objetivo é reduzir roubo...Fornecemos módulo de hardware e software para redução de furto. Vamos lançar no segundo semestre", disse Prado.

Questionado sobre o risco de ter o negócio de locação replicado pelos rivais maiores, o executivo se mostrou confiante, citando a dificuldade da concorrência em se livrar de inúmeras lojas físicas espalhadas pelo país e comparando a situação ao impacto do surgimento do banco digital Nubank no tradicional setor financeiro do país.

"Para eles, é uma mudança radical não ter agência, todo o processo ser feito com celular e extrapolar isso numa escala de 300 mil carros demora tempo, é trabalhoso", disse Prado, referindo-se aos rivais. "A prioridade delas agora é melhorar a rentabilidade, não é digitalizar a frota no curto prazo."

Prado afirmou, porém, que "não tem dúvidas" de que no longo prazo as rivais maiores vão tentar adotar o modelo seja por via de aquisições, seja por investimento próprio.

E também mirando o longo prazo, o executivo citou que "tem poucas dúvidas" de que a Turbi terá operações em outros países da América Latina.

"O produto daria certo em grandes centros urbanos. Bogotá, Buenos Aires, Cidade do México fazem total sentido, mas no curto prazo nosso foco é São Paulo. Temos baixa penetração em regiões periféricas de São Paulo", disse Prado.

SEMINOVOS

Além da oferta da tecnologia, a Turbi também dá os primeiros os no mercado de venda de carros seminovos depois de abrir uma primeira loja própria em maio de 2024. O plano, disse Prado, é abrir mais quatro lojas de seminovos este ano. Por enquanto, a empresa vende cerca de 1.000 carros por ano, afirmou.

O vice-presidente financeiro da Turbi, Mario Liao, que ingressou na Turbi em abril depois de deixar o mesmo posto na companhia aérea Gol no ano ado, afirmou que na operação de seminovos os carros vendidos têm 30 mil quilômetros rodados, 16 meses de uso e um nível de depreciação menor ante as empresas maiores do setor.

"As outras locadoras vendem mais carro, mas não adianta abrir mais lojas porque quando chega o carro para ser vendido é carro de 60 mil quilômetros rodados e pelado versus um carro da Turbi que é topo de linha e tem 30 mil quilômetros", disse o executivo, citando que isso tem mais apelo entre os clientes.

Segundo Liao, a escala atingida pela Turbi já tem permitido à companhia pleitear "bom nível de desconto" com as montadoras na aquisição dos carros, além de uma diversificação de marcas. Atualmente, a Turbi tem uma frota de veículos composta 55% por carros da Volkswagen, mas também possui veículos da Hyundai, General Motors e Stellantis.

Questionado sobre a possibilidade de uma abertura de capital da Turbi na bolsa, Liao afirmou que no curto e médio prazos isso seria "difícil, mas com uma melhora no cenário macro pode ser uma outra história".

"Os últimos IPOs dentro de locação foram de empresas que estavam com frotas de 30 mil, 40 mil carros...O mercado está mais exigente hoje...Mas com a frente de novos negócios colocamos uma tese diferente, que talvez nos coloque em um patamar diferente que o daquele baseado apenas em crescimento de frota", disse Liao.

(Por Alberto Alerigi Jr.)

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