Topo
Notícias

Israel ataca Irã, que revida; o que se sabe sobre os bombardeios até agora

do UOL

Do UOL*, em São Paulo

14/06/2025 12h11

Sob a justificativa de acabar com os planos do Irã de construir uma bomba atômica, Israel bombardeou instalações nucleares e militares iranianas na sexta-feira (13), deixando 78 mortos. Em retaliação, Teerã bombardeou Israel, matando ao menos três pessoas. Em resposta, um novo ataque de Israel neste sábado teria matado mais 60 iranianos, incluindo 20 crianças, segundo a TV estatal do Irã.

O que aconteceu

Israel atacou 100 alvos no Irã na madrugada de sexta. Mísseis atingiram o quartel-general da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã, e prédios residenciais na capital Teerã, matando 78 pessoas e deixando centenas de feridos.

Duas usinas nucleares foram atingidas. Uma usina nuclear em Natanz, na província de Isfahan, foi atacada "várias vezes", mas os inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) não identificaram radiação nuclear na região. Outra instalação em Fordow também teria sido atingida, mas Teerã nega.

O ataque matou militares do alto escalão. Morreram o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, e o comandante do Estado-Maior, Mohamed Bagheri. Nove cientistas nucleares também morreram nos bombardeios, segundo Israel.

Revide rompe "Domo de Ferro"

domo de ferro - Amir Cohen/Reuters - Amir Cohen/Reuters
'Domo de Ferro' de Israel dispara interceptador de mísseis
Imagem: Amir Cohen/Reuters

Após o ataque na madrugada de sexta, o Irã revidou no mesmo dia. Os mísseis de Teerã ultraaram o Domo de Ferro —um sofisticado sistema antimísseis de Israel—, deixando dois mortos e dezenas de feridos. Já neste sábado (14), outro ataque iraniano matou outro israelense, provocando outro contra-ataque.

Novo bombardeio de Israel neste sábado matou 60 iranianos. A informação é da mídia estatal do Irã, segundo quem 20 crianças estão entre as vítimas.

Por que agora?

Israel justificou o ataque ao suposto programa nuclear iraniano. Embora Teerã afirme que enriquece urânio apenas para fins energéticos, Israel, Estados Unidos e a ONU (Organização das Nações Unidas) dizem que o país persa está cada vez mais perto de construir uma bomba atômica. Para interromper o suposto programa nuclear, Israel promoveu o que chamou de "ataque preventivo".

Segundo Israel, o Irã se aproxima do "ponto de não retorno" em seu programa nuclear. O ataque israelense ocorreu assim que a AIEA acusou o Irã de descumprir com seu compromisso de não enriquecer urânio para fins militares. Ao contrário de Israel —que nega possuir um arsenal nuclear de 90 ogivas —, o Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

Nove países teriam a bomba: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte, segundo a Arms Control Association, que monitora os arsenais nucleares desde 1971.

ataque irã  - Jack GUEZ / AFP - Jack GUEZ / AFP
13.jun.2025 - Fogo e fumaça sobem de um prédio, supostamente atingido por um míssil disparado do Irã, no centro de Tel Aviv
Imagem: Jack GUEZ / AFP

Irã é o único Estado não-nuclear que enriquece urânio a 60%. Em tese, esse percentual é suficiente para fabricar uma arma nuclear. As mais potentes, porém, tem enriquecimento de 90% do Urânio, missão relativamente fácil para quem já atingiu 60%, diz a agência.

Para analistas, Netanyahu tenta se agarrar ao poder. Com a impopularidade internacional da atuação militar israelense na Faixa de Gaza, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, teria aberto uma nova frente militar para manter o país em situação de emergência e evitar sua deposição diante de protestos internacionais e domésticos.

Quem está envolvido na guerra?

Israel realizou o ataque sozinho, mas tem nos EUA um aliado militar. Israel depende diplomática e militarmente dos Estados Unidos, mas realizou os ataques sozinho, afirmou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, segundo quem autoridades israelenses consideravam a ação "necessária para sua autodefesa".

Para o Irã, EUA e Israel mentem. O governo de Teerã afirmou que Washington seria "responsável pelas consequências" dos ataques israelenses, afirmando que eles "não poderiam ter sido realizados sem a coordenação e a permissão dos Estados Unidos".

trump netanyahu - Jim Watson/AFP - Jim Watson/AFP
Arquivo - Trump e Netanyahu são aliados
Imagem: Jim Watson/AFP

Trump disse que pode auxiliar Israel. Ele itiu que "sabia de tudo" sobre o ataque e mostrou disposição para ajudar a destruir o programa nuclear de Teerã. O republicano chamou de "excelente" o desempenho dos militares israelenses.

A França disse que pode ajudar Israel a se defender. O presidente, Emmanuel Macron, afirmou que o país não tem intenção de participar da guerra, mas ajudaria na defesa israelense, se precisasse.

Já o Reino Unido defendeu a ofensiva israelense. O primeiro-ministro, Keir Starmer, conversou por telefone com Netanyahu para enfatizar que Israel tem o direito à autodefesa, mas que o conflito precisa de uma solução diplomática.

Em resposta, Teerã ameaçou EUA, França e Reino Unido. Qualquer país que tente interferir no conflito "estará sujeito a ter todas as bases regionais do governo cúmplice atacadas pelas forças iranianas, incluindo bases militares nos países do Golfo Pérsico e navios e embarcações navais no Golfo Pérsico e no Mar Vermelho", disse o Irã em comunicado noticiado pela agência iraniana Mehr.

China e Rússia apoiam Irã

A China afirmou que "se opõe a qualquer tipo de violação da soberania" do Irã. O gigante oriental se ofereceu para "desempenhar um papel construtivo" para acalmar a situação no Oriente Médio.

A Rússia se ofereceu para mediar o conflito. O presidente Vladimir Putin conversou com o presidente do Irã, Masud Pezeshkian, e com Netanyahu depois dos bombardeios. Em comunicado, o Kremlin informou que o presidente russo "condena as ações de Israel, que violam a Carta das Nações Unidas e o direito internacional".

Mas é "pouco provável que a Rússia mande soldados ou armamentos para o Irã". A avaliação é da coordenadora do curso de Relações Internacionais do Mackenzie Rio, Fernanda Brandão. Ela lembra que o Kremlin "tem a questão ucraniana para lidar".

Comunidade islâmica condenou Israel. A Arábia Saudita, que havia se aproximado de Israel, condenou as "agressões flagrantes". Omã, mediador nas negociações entre Teerã e Washington, criticou os ataques como uma "escalada perigosa" que ameaça a estabilidade regional.

Grupos paramilitares islâmicos são aliados do Irã. "Os grupos que poderiam apoiar o Irã são o Hamas, o Hezbollah e os Houtis", diz Brandão. Mas ela acredita que "eles se encontram em momento particularmente frágil em decorrência de recentes ataques feitos pelo próprio Exército israelense".

Para o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, acalmar as tensões na região é "crucial".

*Com agências

Notícias