Ainda não tem um
email BOL? Assine

BOL Mail com até 18 GB Clube de descontos, antivírus e mais
Topo
Notícias

JBL brasileira? Polyvox mira jovens e som nacional para desafiar gigantes

A marca aposta em uma renovação de imagem para atrair o público mais jovem com o lançamento de dois boombox - Divulgação
A marca aposta em uma renovação de imagem para atrair o público mais jovem com o lançamento de dois boombox Imagem: Divulgação

Clara Assunção

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/06/2025 05h30

Em um país onde o som pulsa nas esquinas, nos bailes, paredões, churrascos de domingo e nas festas de rodeio, uma marca 100% nacional decidiu transformar o jeito próprio do brasileiro de ouvir música no seu motor para crescer. A Polyvox, tradicional fabricante de equipamentos de áudio como fones e caixas de sons, quer crescer 40% até o fim de 2025 e desafiar gigantes globais do setor embalada pelo "som do Brasil".O plano envolve aumentar a produção local, lançar novos produtos e fechar parcerias com grandes redes de varejo.

"JBL brasileira"

A empresa é focada em equipamentos de som, assim como a norte-americana JBL. A comparação com a companhia norte-americana que domina o mercado de fones de ouvido agrada Luiz Kencis, CEO da Polyvox. Mas o grupo faz questão de lembrar que aqui, quem dita o tom é o Brasil, com o grave forte, batida encorpada e a voz em destaque.

Temos um padrão de som. Nosso grave é forte com um médio e agudo muito bons e ideais para escutar uma música sertaneja, e que muda também para o funk, que não pode ter distorção com aquele grave todo. A vantagem de ser uma empresa brasileira é entender de som e o gosto do consumidor.
Luiz Kencis, CEO da Polyvox

Para quem viveu nos anos 1980, o nome Polyvox não soa estranho. A marca, fundada pela família Arditti, foi referência em equipamentos de som e até participou da produção do Atari no Brasil e de linhas de som ícone como o lendário modelo AM-5000.

Família comprou o negócio. Mas os tempos mudaram, a empresa foi adquirida pela Gradiente e ficou adormecida por um bom tempo até ser readquirida, em 2017, por uma família apaixonada por áudio e que já tinha relações com a companhia. O grupo segue contando com o fundador Morris Arditti no conselho da empresa. O pai do CEO, que na época da fundação era desenvolvedor de projetos na empresa, voltou ao mesmo cargo que ocupava há quatro décadas

Polyvox  - Divulgação - Divulgação
Polyvox quer crescer 40% com som nacional: do grave do funk à voz do sertanejo
Imagem: Divulgação

De lá para cá, a Polyvox voltou a crescer. Desde 2022, registra altas nas vendas. Em 2024, o aumento foi 39% e a meta de 40% em 2025 parece ao alcance, com a estrutura atual da fábrica no polo industrial de Manaus e um braço de inovação em Shenzhen, na China. Hoje, são 185 funcionários e um time de engenharia que mescla gerações.

Não digo que nossa meta é conservadora, crescer 40% neste ano é uma meta forte, vamos subir de tijolinho a tijolinho e no ano que vem serão mais 40%. São raras as empresas que mantêm um crescimento constante nesse patamar

Entre os modelos mais vendidos estão as torres de sons XT-2212T e XT-660T, com destaque para a XT-20212, a mais cara e a que mais vende. A marca também surfou com sucesso na onda dos toca-discos de vinil. Outro diferencial: a empresa foi a primeira no país a lançar um aplicativo de controle para suas caixas de som. A nova versão, com funções expandidas, chega ao mercado neste mês.

Mas o que diferencia a Polyvox no meio de gigantes internacionais não é só tecnologia, diz o CEO da empresa. A marca desenvolve cada produto pensando em como - e onde - ele será usado. "Aqui faz calor, o pessoal leva para a praia, o churrasco dura o dia inteiro. Tudo isso afeta o som. O nosso produto é feito para isso", explica Kencis.

O conhecimento do comportamento local é um trunfo num mercado de forte concorrência internacional e nacional. "Tem bastante marcas aqui, é mercado bastante competitivo. O que sempre dizemos é que fazer produto bom e caro é fácil. Fazer um produto barato e ruim, também é fácil. Agora, fazer um produto bom e com qualidade, isso é difícil. Então a gente sempre tenta entregar o melhor custo-benefício do mercado", defende o executivo.

Lançamentos

O investimento em Pesquisa e Desenvolvimento já consome 6% da receita da empresa. E os próximos os incluem ampliar o portfólio para abraçar todos os segmentos de áudio - das arandelas de teto ao mercado profissional. "Não conseguimos lançar tudo de uma vez porque desenvolvemos internamente. Seguimos nosso padrão de som. A pessoa escuta e reconhece: isso é Polyvox".

A marca aposta também em uma renovação de imagem para atrair novos públicos. Embora mantenha forte conexão com consumidores que cresceram ouvindo som nas caixas Polyvox, hoje o foco também está nos jovens, com design mais moderno, presença digital reforçada e produtos que dialogam com o estilo de vida contemporâneo.

Para sustentar esse avanço, a empresa prepara uma nova leva de lançamentos para o segundo semestre. Entre eles, dois modelos de boombox - caixas de som portáteis com apelo estético retrô e foco no público jovem -, e um novo toca-discos. O grupo também prepara o anúncio de um produto inédito ainda não divulgado.

Tendências do mercado

Inovação de produtos torna-se essencial no mercado. Segundo dados da Euromonitor, consultoria de pesquisa e análises de mercados globais, o mercado brasileiro de áudio pessoal está ando por uma transformação radical nos últimos anos. O destaque absoluto são os fones de ouvido totalmente sem fio, os chamados TWS (True Wireless Stereo). Essa categoria, que praticamente não existia há pouco mais de uma década, domina o setor: em 2024 movimentou R$ 7,8 bilhões no varejo nacional, mais do que o dobro do valor registrado cinco anos antes. A tendência de alta deve continuar, com projeções apontando para R$ 12,7 bilhões em 2029.

Outra categoria que tem mostrado crescimento é a dos fones com arco, os populares headbands. Em 2024, esses modelos movimentaram R$ 1,5 bilhão, com mais de 2,5 milhões de unidades vendidas para o consumidor a preço médio de R$ 600, um crescimento contínuo que deve quase dobrar até 2029.

Na contramão, os equipamentos de áudio separados, como amplificadores e receivers, estão em queda. As vendas, que já eram baixas, de R$ 10 milhões em 2019, devem recuar para menos de R$ 1,3 milhão até o fim da década. O mesmo deve acontecer com os fones com fios. Em 2019, essa categoria movimentou R$ 1,2 bilhão e respondia por quase 5 milhões de unidades vendidas. Para 2029, a projeção é de apenas R$ 29,6 milhões em vendas e 139 mil unidades no mercado, indicam as projeções da Euromonitor.

Peso da produção local

Parte da diferenciação que a Polyvox procura está na fábrica em Manaus, considerada peça-chave da estratégia. A empresa investiu R$ 20 milhões em 2023 e mais R$ 10 milhões em 2024 na modernização da planta. Agora, trabalha em um novo projeto de ampliação da unidade. Kencis defende que fabricar no Brasil também garante controle de qualidade, o que seria mais difícil se só importasse produtos prontos da Ásia.

Polyvox  - Divulgação - Divulgação
Fábrica no polo industrial de Manaus conta com 185 funcionários e um time de engenharia que mescla gerações
Imagem: Divulgação

Nossa fábrica em Manaus começou no momento que todos os fretes ficaram muito caros. Fabricando aqui no Brasil e trazendo componentes é diferente de importar o produto acabado. Você economiza em frete trazendo apenas em componentes. Penso que, no Brasil, as fábricas que estão produzindo localmente, nesse momento, têm uma grande oportunidade com essas mudanças tarifárias de impostos.

Mesmo assim, a proximidade com a China é estratégica. A empresa mantém um laboratório e um time de 10 colaboradores em Shenzhen, que atuam em conjunto com os engenheiros no Brasil para testar componentes e acompanhar inovações. "A China é o centro mundial de tecnologia. Hoje, o custo deles já se equiparou muito ao nosso, o que reforça ainda mais a importância de investir em eficiência local e aproveitar as vantagens de produzir aqui".

A aposta em tecnologia e inovação vem acompanhada de um esforço de distribuição. A Polyvox já está presente em mais de 3.500 pontos de venda no Brasil e projeta crescer 30% nesse número em 2025. A marca conta hoje com parcerias com grandes redes como Magazine Luiza, Lojas Cem, Havan, Belmol e Drebes, assim como um e-commerce próprio e canais digitais operados com parceiros.

Notícias