Comoção: Vencedor da Palma de Ouro, Jafar Panahi nunca fez filme ruim
"O Agente Secreto" até teve uma torcida forte, mas foi o iraniano "It Was Just an Accident" quem venceu o grande prêmio do Festival de Cannes: a Palma de Ouro.
O longa acompanha a vingança de um homem que reencontra seu antigo torturador. "O filme é lindo e baseado na última prisão do diretor, em que esteve em uma cela com presos comuns —não políticos, como ele", revela Mariane Morisawa, convidada no Plano Geral. "Acho que Panahi nunca fez um filme ruim (...) Seu filme transcende; tem uma importância fora da tela, e reflete sobre o mundo".
Jafar Panahi estar presente no Festival de Cannes, por si só, já é simbólico e um ato de respeito, diz Flavia Guerra. O cineasta iraniano já foi preso em duas ocasiões (em 2010 e 2022) devido à sua postura crítica ao regime de seu país. Apesar de proibido de fazer filmes, ele continuou a fazê-lo clandestinamente e, agora, participou pessoalmente do Festival de Cannes pela primeira vez em 15 anos.
Foi merecido (...) É um filme em que a gente ri sobre um tema tão delicado —e é aí que está a genialidade dele. Em uma situação tão dura do seu país, ele vê o ridículo da situação. Flavia Guerra
A jornalista diz que a premiação do iraniano comoveu toda a plateia de Cannes. "Fiquei muito arrepiada. Todo mundo levantou, na hora. O clima era algo que se sentia", diz. "Em Cannes, um diretor leva uma Palma de Ouro por um trabalho de uma vida".
'O Agente Secreto' e o Oscar
ado o Festival de Cannes, a meta agora é o Oscar. O crítico de cinema Vítor Búrigo lembra, no entanto, que o percurso e longo, e "O Agente Secreto" tem muita concorrência antes mesmo de ser confirmado como representante do Brasil na premiação máxima do cinema.
Queremos repetir toda aquela emoção [de 'Ainda Estou Aqui'], estamos prontos para ar por tudo aquilo de novo, mas vamos lembrar que antes disso tudo a Academia Brasileira de Cinema forma uma comissão que vai escolher o representante. Não temos um representantes brasileiro ainda, [além de 'O Agente Secreto'] temos também 'O Último Azul', de Gabriel Mascaro, premiado em Berlim, 'Manas', de Marianna Brennand... temo muitos filmes bons. Vítor Búrigo
Apesar disso, a premiação de Wagner Moura em Cannes "ajuda muito" na campanha do filme. Segundo Flavia, o ator é essencial para o filme e "faz toda a diferença" na temporada de premiações. "Já aprendemos com 'Ainda Estou Aqui' que, se você quer fazer campanha para o Oscar, tem que ter um ator para ser 'a cara' do filme. Kleber, por mais que seja um 'diretor-autor', ainda não é reconhecido pelo nome. É mais conhecido no circuito nosso de cinefilia".
Outro ponto positivo é o fato dos direitos do filme terem sido adquiridos pela Neon, empresa americana de produção e distribuição de filmes independentes. "A Neon adquiriu muitas Palmas de Ouro, inclusive a deste ano, e fez a campanha de vários filmes importantes para o Oscar, como 'Anora' e 'Parasita'. Eles têm experiência com isso. Sabem fazer campanha", diz Mariane Morisawa.
No Reino Unido, é a Mubi quem adquire o filme. O território tem grande peso para a visibilidade e campanha geral do filme.
Cannes 'quebrou regra' com 'O Agente Secreto'
Os brasileiros foram pegos de surpresa no último sábado, quando o Festival de Cannes anunciou não um, mas dois brasileiros na edição deste ano. Kleber Mendonça Filho conquistou o prêmio na categoria de melhor diretor e Wagner Moura, na de melhor ator.
O júri quebrou uma regra do festival com os dois anúncios. Segundo o regulamento, um filme só pode vencer duas vezes se for nas categorias de prêmio do júri e melhor ator ou atriz; ou melhor roteiro e melhor ator ou atriz. Desta vez, "O Agente Secreto" venceu o prêmio de melhor ator e melhor diretor no mesmo evento.
O júri assumiu a escolha, e o cineasta sul-coreano Hong Sang-soo, que é membro, chegou a dizer que muitos integrantes gostariam que a Palma de Ouro —principal prêmio do festival— fosse entregue ao brasileiro, segundo revela a jornalista Flavia Guerra no Plano Geral desta quarta-feira.
Entendo a decisão do júri e gostei. Já que não iam dar a Palma de Ouro [principal prêmio] para nós, então que dessem esse prêmio muito nobre [de melhor diretor], além do merecido prêmio para o Wagner Moura [de melhor ator]. Flavia Guerra
Na avaliação da jornalista, o filme brasileiro é cheio de camadas e "muito autoral". "É um filme que só o Kleber teria feito, escrito e dirigido. É um jeito muito dele de enxergar o mundo", diz ela.
Em sua estreia em Cannes, o filme intrigou por supostas "pistas falsas". Flavia, no entanto, afirma que as escolhas do diretor são propositais e refletem a insegurança da ditadura brasileira, época em que o filme se a. "Ele planta essas pistas para ficarem mesmo na nossa cabeça", afirma.
Além dos dois prêmios oficiais, o filme venceu o Prêmio da Crítica, que é um reconhecimento dado por críticos de cinema no evento. "Foi uma alegria incrível apresentar 'O Agente Secreto' da maneira como a gente quis, com cortejo de Carnaval e frevo", contou Kleber em entrevista ao Plano Geral.
A gente honrou Cannes, que é a maior sessão de cinema do mundo. Kleber Mendonça Filho
Apresentado por Flavia Guerra e Vitor Búrigo, Plano Geral é exibido às quartas-feiras, às 11h, no canal de Splash no YouTube e na home do UOL, com as principais notícias sobre cinema e streaming. Você pode ainda ouvi-lo no Spotify, Apple Podcasts e Google Podcasts.