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'Só me resta o trabalho', desabafa Marcos Oliveira no Retiro dos Artistas

do UOL

De Splash, no Rio

02/06/2025 05h30

Sem olhar para o ado, o ator Marcos Oliveira, 69, mira o presente e o futuro. Morando há quase dois meses no Retiro dos Artistas, lar que abriga artistas idosos na zona oeste do Rio de Janeiro, ele tenta reorganizar a vida em meio a dificuldades financeiras e pessoais.

Estava me sentindo muito abatido e com muita dívida, me sentindo improdutivo, mal, sem uma referência e ando por muita dificuldade desde dezembro.

Rotina no Retiro dos Artistas

Ao lado da cachorrinha Lolita, o ator vive em uma casa construída a partir de doações de Marieta Severo, 78, dentro do lar para idosos. Ali, participa de atividades, mantém uma rotina ativa e, quase aos 70 anos, voltou a estudar. "Minha rotina é tranquila. Estou fazendo aula de dublagem. Quero ver se daqui, seis meses ou um ano, eu me formo e começo a trabalhar com isso. Eu quero trabalho. A única coisa que me resta na vida é o trabalho".

Além das aulas, ele diz que tem viajado bastante, feito alguns eventos e tenta se manter ativo. "Estou aí para novas propostas de cinema, de propaganda... Não quero ficar de 'bunda lelê' pela vida ou dependendo muito dos outros. Acho que vamos depender sempre da sociedade, dos amigos, dos parentes, mas eu quero ser produtivo. Claro que eu não vou fazer 12 horas de trabalho, mas pelo menos umas seis ou sete horas dá para produzir... Quem sabe um dia eu volto para a TV."

Marcos também mudou o visual e aderiu a um "topete avantajado" que, segundo ele, tem divido opiniões: "uns gostam, outros debocham", brinca. Apesar de conviver com muitos colegas no Retiro, Marcos não é muito de papo furado. "Não tenho muito tempo para conversar, não, querido. Minha vida é objetiva, é trabalho. Tem uns que ficam no quá-quá-quá, mas ar a vida no blá-blá-blá é um nojo. Cansa perder tempo com palavras. Meu ouvido não é pinico."

Marcos Oliveira, famoso por interpretar o Beiçola, vive atualmente no Retiro dos Artistas - Filipe Pavão/UOL - Filipe Pavão/UOL
Marcos Oliveira, famoso por interpretar o Beiçola, vive atualmente no Retiro dos Artistas
Imagem: Filipe Pavão/UOL

Lembranças de "A Grande Família"

Intérprete do eterno Beiçola, o ator não tem dúvidas da importância do seriado "A Grande Família" na história da TV brasileira. Mas não esconde uma mágoa da Globo. "Foi um marco na televisão. Eles não querem itir, mas foi. Tem uma certa sacanagem aí na Globo, que não dão o braço a torcer. Foi um programa que fez muito sucesso. Claro que em qualquer grande empresa tem gente que puxa o tapete."

Ele pontua que o seriado acabou porque os autores e parte do elenco queriam se dedicar a novos projetos. "Agora, cada um está vivendo sua história, sua vida. Mas, pelo menos a gente marcou", afirma ele, que diz não resumir sua carreira aos 13 anos do seriado. Marcos, na verdade, se diz artista do teatro. "Comecei muito cedo, com 14 anos fazendo teatro amador, viajei pela Europa, fiz Nelson Rodrigues, vim para o Rio, fiz teatro, cinema, percorri todas as áreas".

Participei da peça 'Lisbela e o Prisioneiro'. Lá, o Guel [Arraes] veio com o projeto para fazer 'A Grande Família', mas eram dez programas. Fiquei um ano fazendo. Depois, me contrataram como membro da história... O público me adorou. Quem me deu tudo isso foi o público, porque até então era só uma participação.

Para o futuro, ele não tem sonhos e diz querer apenas trabalhar. "Viver é melhor que sonhar. A porrada que for, eu quero viver. Sonhar é uma coisa tão etérea. Só vivendo é que você vai chegar no teu objetivo. No sonho, você fica uma coisa 'maluco beleza'. O concreto é estudar e melhorar, tem que aprender e vamos em frente. Sonhar é para meia dúzia de amebas ou protozoários que não sabem o que é evolução".

"A Grande Família" estreou em 2001; No elenco: Marco Nanini (Lineu), Marieta Severo (Nenê), Lúcio Mauro Filho (Tuco), Rogério Cardoso (Floriano), Pedro Cardoso (Agostinho), Gusta Stresser (Bebel), Marcos Oliveira (Beiçola) - Reprodução - Reprodução
"A Grande Família" estreou em 2001; No elenco: Marco Nanini (Lineu), Marieta Severo (Nenê), Lúcio Mauro Filho (Tuco), Rogério Cardoso (Floriano), Pedro Cardoso (Agostinho), Gusta Stresser (Bebel), Marcos Oliveira (Beiçola)
Imagem: Reprodução

Dívidas

Marcos Oliveira enfrentou dificuldades financeiras e problemas de moradia nos últimos anos. Ele chegou a lidar com uma ordem de despejo por falta de pagamento de aluguel e recebeu apoio de colegas da classe artística, como Tatá Werneck. Depois, foi morar no Retiro, após doação de Marieta Severo para a construção de sua nova casa.

No ano ado, o ator revelou que tudo se agravou após levar um golpe aplicado por um homem que trabalhava como seu assessor. Ele teria usado documentos do artista para contrair empréstimos em seu nome, acumulando uma dívida superior a R$ 300 mil. O veterano afirma que se não fosse o golpe, ele não teria o nome sujo.

Marcos Oliveira  om sua cachorrinha no Retiro dos Artistas - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Marcos Oliveira om sua cachorrinha no Retiro dos Artistas
Imagem: Reprodução/Instagram

Fui roubado. Sou uma pessoa sozinha, solitária, e ei por perrengues. Claro que eu já teria que ter uma vida melhor, mas não tive condições. Fiz boletim de ocorrência, foi para a Promotoria... Eu ainda tenho o nome sujo, com [quase] 70 anos ainda. É barra, mas vamos trabalhar, é a única coisa que eu quero. O resto é bobagem do cotidiano brasileiro, entendeu?

Apesar do recomeço, o ator acumula dívidas, incluindo a do apartamento onde morava. "Estou pagando. Deixei uma dívida e vou pagar". Além das dívidas, Marcos lida com despesas fixas relacionadas ao bem-estar e saúde, tendo menos dinheiro que antes. "Tenho fralda, tenho um monte de coisa [para comprar] e minha aposentadoria foi cortada, quer dizer, eu recebia X e, por causa do golpe, eu recebo menos".

Ele também rebate críticas maldosas sobre ter vivido no luxo ou gastado mais que deveria ao longo das décadas. "Já ouvi: 'Para de gastar dinheiro com homem, para de ir a p*teiro. Bicho, a única coisa que eu tratei foi da minha saúde. Isso foi fundamental. Mas cada um fala o que quer, imagina o que quer".

Tenho tanta coisa para pensar. Não ligo para uma meia dúzia de gente babaca que fica dando opinião. O importante é minha consciência e a minha conduta. Eu sei que não fiz isso e vou tocando meu barco à frente... É carne para urubu. Virei prato de urubu. C'est la vie [assim é a vida, em tradução do francês], mas estou bem.