Espanha propõe embargo à venda de armas para Israel
Espanha propõe embargo à venda de armas para Israel - País sediou reunião de cúpula de países europeus e árabes, além do Brasil, em busca de solução para guerra em Gaza. Situação no território palestino é "inável", afirma ministro alemão.A Espanha propôs neste domingo (25/05) a adoção de um embargo à venda de armas para Israel, como uma forma de pressionar o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a interromper a guerra em Gaza e autorizar a entrada ampla de ajuda humanitária no território palestino.
O ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares, sugeriu que a comunidade internacional deveria considerar também outras sanções contra Israel.
As declarações foram feitas durante uma reunião do Grupo de Madri, que reúne representantes de países europeus e de países árabes, além do Brasil, para discutir a situação em Gaza e promover a solução de dois Estados.
Alguns dos aliados de longa data de Israel vêm se juntando à crescente pressão internacional após a expansão das operações militares contra o Hamas em Gaza, cujo ataque terrorista a Israel em 2023 desencadeou a guerra.
Um bloqueio à entrada de ajuda humanitária que durou dois meses agravou a escassez de alimentos, água, combustível e medicamentos no território palestino. O bloqueio foi revisto recentemente, mas organizações de ajuda humanitária afirmam que a pequena quantidade de suprimentos que Israel permitiu entrar está muito aquém das necessidades.
Entre os países representados no encontro deste domingo estavam Espanha, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Noruega, Islândia, Irlanda e Eslovênia, além de Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Turquia e Marrocos. O Brasil também participa do grupo, assim como a Liga Árabe e a Organização para a Cooperação Islâmica.
Guerra "sem sentido"
Albares afirmou que as negociações em Madri têm como objetivo interromper a guerra "desumana" e "sem sentido" de Israel em Gaza, e que a ajuda humanitária deve entrar em Gaza "maciçamente, sem condições e sem limites, e não controlada por Israel".
Ele descreveu a Faixa de Gaza como a "ferida aberta" da humanidade. "O silêncio nestes momentos é cumplicidade com esse massacre (...) é por isso que estamos nos reunindo", disse.
Depois que a União Europeia decidiu, na terça-feira, rever seu acordo de cooperação comercial com Israel, Albares disse a jornalistas que a Espanha solicitaria sua "suspensão imediata".
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, também afirmou que seu país apoiará projetos de resolução nas Nações Unidas com o objetivo de aumentar o o da ajuda a Gaza e responsabilizar Israel por suas obrigações humanitárias internacionais.
Entre os países europeus, além da Espanha, a Noruega e a Irlanda aram a reconhecer o Estado palestino em maio de 2024, após o início da guerra em Gaza, como uma forma de impulsionar a solução de dois Estados – o que enfureceu Netanyahu, que considerou o gesto uma "recompensa" para o Hamas.
Na ocasião, a maioria das nações da Europa Ocidental disse estar disposta a um dia reconhecer o Estado palestino, mas não antes de chegar a um acordo sobre questões espinhosas, como o status de Jerusalém e as fronteiras finais. A Alemanha tem vínculos com a Autoridade Nacional Palestina (rival do Hamas), mas só planeja reconhecer um Estado palestino quando Israel fizer o mesmo.
França atua por pressão coordenada para cessar-fogo
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, conversou por vídeo com seus homólogos árabes neste domingo e disse ser necessário "uma pressão coordenada" para um cessar-fogo e a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas, disse seu gabinete.
Barrot também se reunirá com o representante da Autoridade Palestina para Relações Exteriores, Varsen Aghabekian Shahin, durante uma viagem a Yerevan na próxima semana.
A iniciativa diplomática ocorre um mês antes de uma conferência da ONU sobre o conflito israelo-palestino, que será presidida pela França e pela Arábia Saudita.
Situação em Gaza é "inável", afirma ministro alemão
Também neste domingo, o ministro do Exterior da Alemanha, Johann Wadephul, descreveu a situação humanitária em Gaza como "inável". "Por um lado, defendemos o Estado de Israel, somos responsáveis por ele e, por outro lado, é claro, defendemos os valores fundamentais da humanidade e reconhecemos o sofrimento dessas pessoas", disse Wadephul à emissora pública alemã ARD.
"É por isso que está absolutamente claro – e eu discuti isso novamente hoje com meu colega israelense, o sr. [Gideon] Saar: Deve haver uma entrega, uma entrega rápida e eficaz de suprimentos de ajuda."
Wadephul, que assumiu neste mês o cargo no governo do chanceler federal Friedrich Merz, disse que tem conversado com Saar quase todos os dias desde sua visita a Israel há duas semanas.
"A Alemanha, é claro, alinhará toda a sua política relativa a essa região e a Israel com os valores da humanidade e o destino dos palestinos", disse o ministro. Entretanto, essa é uma "situação extraordinariamente difícil para nós", itiu.
Os comentários de Wadephul foram ecoados por seu colega conservador Armin Laschet, que definiu o comportamento de Israel como uma violação da lei internacional de direitos humanos.
"Bloquear entregas de alimentos, de ajuda humanitária e de remédios para a população não é combater o Hamas", disse Laschet à emissora ZDF. "Matar pessoas de fome até a morte é contrário ao direito internacional."
Laschet, que concorreu ao cargo de chanceler federal em 2021, é o presidente do comitê de relações exteriores do Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão.
Ataques israelenses mataram 38 em Gaza neste domingo
Há duas semanas, Israel iniciou uma nova ofensiva na Faixa de Gaza, depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, encerrar sua turnê pelo Oriente Médio sem nenhum progresso aparente em direção a um novo cessar-fogo.
Os relatos de mortes de civis se acumulam diariamente. Neste domingo, pelo menos 38 pessoas foram mortas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, istrado pelo Hamas. A agência de notícias Reuters reportou 23 mortos, entre eles um jornalista local e um socorrista.
No sábado, um ataque matou dois funcionários da Cruz Vermelha enquanto eles estavam em sua casa na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, segundo informou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Na sexta-feira, um ataque israelense na mesma cidade matou nove dos dez filhos de um casal de médicos de um hospital local.
A guerra em Gaza foi deflagrada após o ataque terrorista do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.218 pessoas, principalmente civis. Os militantes palestinos também fizeram 251 reféns, 57 dos quais permanecem em Gaza, incluindo 34 que os militares israelenses dizem estar mortos. A ofensiva de Israel já matou quase 54 mil pessoas, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, istrado pelo Hamas.
bl (AFP, dpa)