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"Abominável", diz família de pai de santo após cremação sem autorização

Odair dos Santos (à esquerda e no centro na segunda foto) morreu em 2022 e foi cremado sem autorização da família em maio deste ano - Arquivo pessoal
Odair dos Santos (à esquerda e no centro na segunda foto) morreu em 2022 e foi cremado sem autorização da família em maio deste ano Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

Márcio Padrão

Colaboração para o UOL

29/05/2025 21h54

O pai de santo Odair dos Santos, morto em janeiro de 2022, foi cremado no começo deste mês sem autorização da família, em São Paulo. A família afirma que houve má fé por parte da Velar, que istra o cemitério. A empresa nega, dizendo ter havido erro humano.

O que aconteceu

Após o falecimento de Odair aos 72 anos, ele foi sepultado no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, zona leste de São Paulo. Em 2023, o local foi privatizado e a Velar ou a istrá-lo.

Em 30 de abril deste ano, a família começou a cuidar da exumação do corpo. Os filhos presenciaram a abertura parcial do caixão e o identificaram, mas o sepultador disse que não podia tirá-lo de lá porque ainda havia resíduos mortais. Foi iniciado um processo para obter um caixão novo e realizar o traslado para um jazigo novo, dentro de alguns dias.

No dia 2 de maio, a família chegou ao cemitério para concluir o transporte para o jazigo. No entanto, notaram detalhes estranhos. "A terra do caixão estava toda remexida e a lápide não estava mais lá", disse Flávia dos Santos, uma dos três filhos de Odair.

Local onde Odair dos Santos foi enterrado, no cemitério São Pedro, na Vila Alpina, em São Paulo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Local onde Odair dos Santos foi enterrado, no cemitério São Pedro, na Vila Alpina, em São Paulo
Imagem: Arquivo pessoal

No primeiro momento, a família ouviu da equipe do cemitério que usaram o caixão novo de Odair com outra pessoa. Isso ocorreu em "caráter de urgência" pois "um corpo começou a vazar resíduos", mas que iriam adquirir um caixão novo naquele mesmo dia e pediu para eles esperarem um pouco.

A istração do parque atrasou o procedimento por mais de três horas, dizem os filhos. Com isso, chamaram a polícia, e só após a pressão uma funcionária disse a eles que o corpo teria sido cremado por engano. Foi confundido com o de uma mulher que fora enterrada na mesma quadra do cemitério onde estava Odair.

A família não aceita esta versão dos fatos. "Nosso pai foi enterrado com a roupa de babalorixá. As mulheres na umbanda usam lenços", disse Kleber dos Santos, também filho do pai de santo. "Como eles confundem o corpo de uma mulher com o de um homem? A lápide tinha foto dele. Alegaram ainda que o rapaz da cremação não tinha instrução, mas falamos com o sobrinho dele e ele sabe sim ler e escrever", disse Flávia.

Em vida, Odair deixou claro que não queria ser cremado. Muitos praticantes da umbanda são contra a prática, o que era o caso dele. "Nosso preceito espiritual diz que temos que voltar para a terra de onde viemos. Isso ele pontuava muito forte, achava a cremação abominável. Por isso compramos um jazigo para ele e os demais da família", disse Kleber.

Objetivo dos filhos é ir à Justiça. Eles querem denunciar a Velar no Ministério Público nas esferas criminal, cível e istrativo. No artigo 212 do Código Penal Brasileiro, o vilipêndio de cadáveres prevê pena de um a três anos de detenção e multa.

Outro lado

Velar pediu desculpas e propôs pagar os custos. "A concessionária lamenta profundamente o ocorrido e esclarece que procurou a família assim que soube dos fatos. (..) Por um erro humano e isolado, os despojos, que deveriam ser transferidos para jazigo familiar após a exumação, foram encaminhados para cremação. (...) Apesar de encontros entre representantes da empresa e familiares, não foi possível chegar a uma solução comum. Continuamos à disposição para o diálogo e todos os valores cobrados pelos procedimentos serão devolvidos integralmente à família.", disse em nota enviada à reportagem. O novo caixão e o transporte custaram R$ 1.412 à família.

[Atualização 30/05/2025] Em nota, a SP Regula lamentou e que abriu procedimento interno para apurar as circunstâncias do caso. "Ressaltamos que, até o momento, não há registro de reclamação por parte da munícipe nos canais oficiais da agência reguladora. A SP Regula faz fiscalização contínua e desde o início da concessão até o dia 21 de maio, 300 autos de infração foram convertidos em multas, que somam cerca de R$ 5 milhões", disse o texto.

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