Agência da ONU diz que Irã dobrou enriquecimento de urânio em 3 meses
Agência da ONU diz que Irã dobrou enriquecimento de urânio em 3 meses - País possui agora 409 quilos de urânio com alto grau de pureza. Disparada na produção acontece em meio a conversas com os EUA sobre acordo nuclear.O Irã quase dobrou sua produção de urânio altamente enriquecido nos últimos três meses, de acordo com um relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU.
Teerã possui agora quase 409 quilos de urânio com grau de pureza de 60% – um aumento de 133,8 quilos em relação à última avaliação trimestral da AIEA, de fevereiro.
A disparada na produção acontece em meio a conversas do governo iraniano e os EUA para com o objetivo de impedir que o país do Oriente Médio adquira armas nucleares. Segundo a agência, o regime persa acelera o ritmo de enriquecimento para obter vantagem na negociação com os americanos.
De acordo com fontes diplomáticas, cerca de 42 quilos seriam suficientes para produzir uma arma nuclear, caso esse urânio fosse enriquecido a 90%.
O total de urânio enriquecido do Irã em diferentes níveis de pureza, estimado em 9.247,6 quilos, ultraa 45 vezes o limite autorizado pelo acordo nuclear de 2015 com potências mundiais. O enriquecimento a até 60% também está acima do limite de 3,67% estabelecido pelo acordo.
"O aumento significativo na produção e acúmulo de urânio altamente enriquecido pelo Irã – o único Estado não possuidor de armas nucleares a produzir esse tipo de material – é motivo de grave preocupação", disse a AIEA.
Em um segundo relatório, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, afirmou que o Irã anteriormente ocultou atividades e materiais nucleares em três instalações.
Segundo Grossi, o país obstruiu as investigações ao não responder questionamentos, responder de maneira pouco confiável e encobrir ações que violam os acordos de inspeção sobre suas atividades. O diretor já havia apontado o movimento do governo persa em relatórios anteriores.
O novo relatório, mais completo, pode levar o conselho a encaminhar as violações do Irã ao Conselho de Segurança da ONU.
Reino Unido, França e Alemanha estão entre os países que mencionaram a possibilidade de retomar sanções na ONU nesse contexto.
Irã rejeita relatório
O Irã rejeitou o relatório, divulgado em meio às tensões crescentes no Oriente Médio devido à ofensiva militar de Israel em Gaza. O Ministério das Relações Exteriores iraniano classificou o documento como uma manobra política.
A pasta acusou Israel, seu inimigo declarado, de fornecer "informações não confiáveis e enganosas" à AIEA, contrariando os "princípios de verificação profissional" da agência. O país nega que esteja buscando armas nucleares e alega que precisa do urânio para geração de energia civil.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, exigiu que a comunidade internacional tome ações imediatas contra o programa nuclear do Irã, após a divulgação do relatório.
"O relatório reforça fortemente o que Israel vem dizendo há anos: o objetivo do programa nuclear do Irã não é pacífico", afirmou em nota. "Esse nível de enriquecimento só existe em países que estão ativamente buscando armas nucleares e não tem nenhuma justificativa civil."
Negociações com EUA e ameaças de ação militar
O Irã realizou cinco rodadas de negociações com os Estados Unidos sobre um novo acordo com potências globais, após Trump abandonar o pacto de 2015 durante seu primeiro mandato, em 2018.
O governo iraniano continuou a cumprir o acordo por um ano após a saída de Trump, mas depois ou a descumpri-lo gradualmente.
Agora, os EUA reabriram negociações com o Irã para conter o programa nuclear iraniano.
O presidente americano advertiu Netanyahu a não tomar medidas que pudessem atrapalhar as negociações com o Irã sobre seu programa nuclear.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, disse mais cedo que havia recebido "elementos" de uma proposta dos EUA para um possível acordo nuclear após as rodadas de negociações mediadas por Omã.
gq (afp, dpa, ap)