Um dólar investido em adaptação climática pode render US$ 10, mostra estudo

Com a intensificação de eventos extremos como enchentes e incêndios florestais, um novo estudo do WRI (World Resources Institute) indica que investimentos em adaptação e resiliência climática podem oferecer retornos econômicos significativos. A pesquisa analisou 320 projetos em 12 países, entre eles o Brasil, totalizando US$ 133 bilhões, e concluiu que cada dólar investido pode gerar mais de US$ 10 em benefícios ao longo de uma década.
De acordo com o WRI, o retorno médio dos investimentos analisados é de 27%, com potencial acumulado de mais de US$ 1,4 trilhão. Setores como saúde e gestão de riscos de desastres apresentam os maiores retornos. Na área da saúde, os investimentos podem superar 78% de retorno, impulsionados pela redução de impactos como estresse térmico, dengue e malária. Já iniciativas como sistemas de alerta precoce mostraram eficiência ao preservar vidas e infraestrutura.
Os investimentos considerados no estudo envolvem ações como agricultura resiliente ao clima, ampliação de serviços de saúde e medidas de proteção contra inundações urbanas. Em muitos casos, os benefícios sociais e de desenvolvimento decorrentes superam as perdas evitadas com desastres climáticos.
No caso do Brasil, foi considerado o projeto de Desenvolvimento Urbano Sustentável de Fortaleza, financiado pelo Banco Mundial com um empréstimo de US$ 73,3 milhões. As ações se concentraram em áreas da Bacia Vertente Marítima e do Parque Rachel de Queiroz, com foco na restauração ambiental, ampliação do saneamento e redução da poluição.
Os outros países que tiveram projetos avaliados são África do Sul, Bangladesh, China, Colômbia, Etiópia, Gana, Índia, Quênia, Senegal, Uzbequistão e Vietnã.
De acordo com o levantamento, os benefícios gerados foram avaliados em três frentes: perdas evitadas, ganhos econômicos induzidos (como geração de empregos e aumento da produtividade agrícola) e benefícios sociais e ambientais mais amplos. A maioria dos projetos apresentou resultados equilibrados entre os três e, segundo o WRI, apenas 8% das avaliações econômicas estimaram o valor monetário total dos retornos, o que sugere que o potencial real pode estar subestimado.
O estudo também destaca que mais de 50% dos benefícios ocorrem mesmo na ausência de eventos extremos. Estruturas de adaptação, como sistemas de irrigação e centros de evacuação, podem gerar utilidade constante, e soluções baseadas na natureza, como a preservação de bacias hidrográficas e zonas costeiras, oferecem ganhos ambientais e recreativos adicionais.
Além disso, cerca de metade dos investimentos analisados também contribuem para a redução de emissões de gases de efeito estufa, demonstrando sinergia entre adaptação e mitigação climática. Essa integração, segundo o WRI, pode ampliar o o a recursos financeiros voltados à redução de emissões.
Entre as recomendações do estudo para formuladores de políticas públicas estão: considerar a adaptação como uma oportunidade econômica; integrar a resiliência climática nas estratégias nacionais de desenvolvimento; e adotar metodologias padronizadas para avaliação e monitoramento de impactos.