Filhos de quadrisal sofrem ataques e recebem até nudes da mãe: 'Dói muito'

Dois jovens, filhos de uma família poliamorosa de Florianópolis (SC), foram alvos de preconceito devido ao relacionamento quadrúplo dos pais que, além de serem adeptos da poligamia, também são produtores de conteúdo adulto.
O que aconteceu
Jovens foram alvos de ataques verbais e também de comentários depreciativos nas redes sociais. Henry Abate, 19, e um adolescente de 13 anos, são filhos biológicos de Kel Macettare, 41, e Bruno Abate, 42. No entanto, há dois anos o casal ampliou o relacionamento com a entrada de novos parceiros: Kel namora Diego Machado, 37, enquanto Bruno namora Jennifer Faria, 21. O quadrisal mora junto com os filhos na mesma casa e costuma compartilhar detalhes da rotina poliafetiva nas redes sociais.
Exposição do modelo familiar diferente do tradicional atraiu ataques a Henry e ao adolescente. Ao UOL, Kel explicou que as críticas "ultraaram o ambiente virtual e aram a atingir diretamente os nossos filhos, dizem que a gente submete eles a um ambiente sem moral".
Os pais dos jovens afirmam que os ataques, além de "cruéis", são "absolutamente infundados" e "distorcem a realidade". "Não é justo com eles. A gente tenta blindar, mas às vezes eles leem essas mensagens, escutam as agressões verbais. Os dois ainda são jovens, mas entendem tudo", explica Bruno.
Filhos pedem respeito
Henry, o mais velho dos filhos do quadrisal, afirma não se incomodar com o modelo de relacionamento dos pais. Ele ite que, com a exposição de sua família nas mídias digitais, já imaginava que seria alvo de ataques, só que não sabia que seriam nessa intensidade, ou seja, que extrapolariam o ambiente virtual.
Ele tenta se blindar para não se deixar atingir pelas críticas ou "brincadeiras maldosas". O jovem conta que algumas pessoas chegam a enviar fotos da mãe nua no direct do Instagram, como forma de "atingi-lo". Outros querem saber se ele assiste aos conteúdos pornográficos dos pais, o que nega veementemente. "Nunca assisti e nem quero. Acho bizarro que algum filho queira ver pai e mãe em momentos íntimos", afirma.
Henry também ressalta que o relacionamento poliamoroso dos pais "nunca foi um problema", tampouco determina seu estilo de vida. Ele mantém um namoro monogâmico e afirma não ter pretensão de aderir à poligamia. "Meus pais vivem a relação do jeito que acham melhor pra eles e está tudo bem. Eu vivo um relacionamento monogâmico. A forma como eles escolhem viver não interfere em nada na minha vida amorosa".
Mesmo assim, Henry pontua que é "difícil" ver as pessoas "julgarem" o estilo de vida de sua família. "Muita gente que se diz 'do bem' ainda tem um preconceito enorme com qualquer coisa que saia do padrão. Mas, sinceramente, eu não carrego esse peso. Cada um tem o direito de viver da forma que faz sentido pra si, e eu tenho orgulho de respeitar isso".
A gente só quer ser respeitado, mas acabam colocando a gente como se fosse o problema, e isso dói muito. Espero que um dia entendam que amor pode ter várias formas, e que a gente merece paz.
-- Henry Abate
O mais novo dos filhos ite ficar chateado quando escuta comentários depreciativos sobre os pais e diz ter "medo de ser diferente" devido aos julgamentos de terceiros. "Quando vejo as coisas ruins que falam da nossa família, fico chateado e até com medo de ser diferente. Ninguém deveria ser atacado só por ter uma família que ama de um jeito diferente. A gente só quer ser feliz sem sofrer por isso".
'Não somos desestruturados'
Quadrisal diz compreender que ainda existe "resistência" na sociedade ao modelo de família poliamorosa, mas não podia imaginar que o modo de vida que escolheram atingiria diretamente os filhos. "Dizem que estamos normalizando a falta de respeito, que viramos um 'circo' ou que nossos filhos sentiriam vergonha da gente. Mas quem está desrespeitando quem?", rebate Diego.
Não existe apenas um modelo único ou certo de família, afirma Jennifer, que destaca o fato de que a sua é repleta de amor e afeto. "Estamos juntos porque escolhemos estar. E queremos que as pessoas entendam que existem muitas formas de viver o amor. Nossos filhos vivem em um ambiente de diálogo e afeto. Não é justo que eles sejam atacados por isso".
O pilar de uma família poliamorosa é o respeito mútuo, afirma Kel. A matriarca do 'clã Macettare', como eles gostam de se identificar, afirma haver uma "distorção absurda da realidade", com pessoas acusando os pais de inserirem os filhos em "situações impróprias" que acarretarão "problemas psicológicos" aos dois.
Nosso relacionamento é baseado em respeito mútuo, cuidado e liberdade -- entre nós e com os meninos. Não é uma experiência desestruturada, como tentam pintar.
-- Kel Macettare
Quadrisal
Kel e Bruno são casados há 25 anos. Os dois abriram o relacionamento há duas décadas, quando aderiram ao swing (troca de casais), mas há dois anos se apaixonaram por outras pessoas e formaram um quadrisal.
Bruno, Kel e Diego moram na mesma casa. Jennifer a a semana em outro endereço e vai até o lar Macettare aos finais de semana e feriados. O quadrisal concilia a vida amorosa com a profissional, e produzem conteúdo adulto para plataformas como a Privacy, a principal fonte de renda da família.
Eles compartilham detalhes da rotina na internet. Com a exposição, os quatro dizem que as críticas são inevitáveis, mas buscam focar nos comentários positivos, além, claro, do amor entre eles.
Quando a gente posta a nossa intimidade, falam muita besteira, mas a gente releva, porque sabe como vive, o carinho que temos um pelo outro e a família que temos. Trago para mim tudo o que é de bom, o que as pessoas falam de bom é o que guardo.
Bruno Abate
Kel também prefere focar apenas na parte boa do casamento a quatro, em especial a de ter dois companheiros. "Sou cercada de carinho, amor, respeito e para mim é ótimo. Sou blindada do preconceito, estou segura do que estou fazendo, então não tem como me atingir. Por que aceitaria que falassem algo de mim se [meu casamento] é ótimo? Não faço nada de errado, todo mundo aqui está de acordo. Então o que falam de mim não influencia."
Já Diego afirma viver o tipo de relacionamento que sempre idealizou. "Temos certeza do que estamos fazendo, não tem o que possa nos abalar. A gente se ama e é isso".