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'Eu tinha 30 Lamborghinis': piloto de Pablo Escobar dá primeira entrevista

"TJ" Dominguez era responsável pelo contrabando de cocaína no Sul da Flórida (EUA) a serviço de Pablo Escobar - Reprodução/Instagram/@queenofthecon
"TJ" Dominguez era responsável pelo contrabando de cocaína no Sul da Flórida (EUA) a serviço de Pablo Escobar Imagem: Reprodução/Instagram/@queenofthecon
do UOL

Colaboração para o UOL

11/06/2025 05h30

Tirso "TJ" Dominguez, 73, principal piloto que transportava cocaína para o cartel de Pablo Escobar, revelou a um novo podcast que o colombiano pagava mensalmente uma quantia de US$ 20 milhões (mais de R$ 111 milhões, conforme cotação atual) para que TJ pilotasse aeronaves carregadas com a droga.

TJ se envolveu com o tráfico nos anos 70

O piloto concedeu a primeira entrevista desde que foi detido em sua casa na Flórida (EUA), em 1988. O jornal britânico The Guardian teve o à íntegra do podcast "Cocaine Air" e publicou algumas das revelações feitas por TJ. O comparsa de Escobar ficou mais de 12 anos preso por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

TJ se envolveu com o tráfico de drogas no final da década de 1970, depois que seu pai morreu por causa de um câncer. Aos 20 anos, TJ precisava dar continuidade à construção de uma usina de açúcar no Haiti. Ao levar um golpe de banqueiros de Miami, onde o pai atuava como construtor, TJ aprendeu a pilotar aviões para transportar drogas para traficantes, contrabandeando maconha das Bahamas e da Colômbia para os Estados Unidos.

A mudança para o tráfico de cocaína aconteceu depois que TJ despejou uma encomenda de maconha no barco de contrabando errado. Sequestrado e ameaçado de morte pelos fornecedores, TJ viu no tráfico de cocaína a oportunidade de levantar a quantia necessária para ressarci-los. O voo rendeu a TJ o pagamento de US$ 1 milhão (mais de R$ 5,5 milhões).

A conexão com Pablo Escobar

O lucro do primeiro voo carregado de cocaína fez com que o piloto mudasse de vez a substância transportada. TJ ou a contrabandear cocaína em tempo integral, e garante que nunca perdeu uma remessa.

Eu nunca quis me envolver com cocaína porque os traficantes de cocaína eram os bandidos... responsáveis por todas as mortes [...] Eu não tolero drogas. Nunca usei drogas. Fui vítima de um golpe que me empurrou na direção em que acabei Tirso "TJ" Dominguez, ao podcast "Cocaine Air"

TJ contou que, inicialmente, recusou uma oferta de emprego de Escobar. À época, o piloto recebia US$ 4 milhões mensais fazendo o serviço de transporte aéreo de drogas para um dos concorrentes do cartel de Escobar por meio de quatro voos mensais.

No entanto, TJ mudou de ideia quando Escobar elevou a oferta e ofereceu um valor cinco vezes maior. "Vou ser sincero com você: Pablo Escobar não significava nada para mim", disse o piloto no podcast "Eu [estava] orgulhoso, eu ando sobre as águas, sabe? Estou ganhando US$ 4 milhões por mês". Escobar, então, ofereceu os mesmos quatro voos por mês, porém a US$ 5 milhões cada.

O valor extrapolou as expectativas de TJ, que aceitou a oferta e ou a viver uma vida —ainda mais - luxuosa. "Eu tinha 30 Lamborghinis e me vestia bem". Com carros de cores diferentes, ele combinava o tom do veículo com a cor da camisa usada no dia. Escute o trecho abaixo (em inglês):

TJ tinha uma mansão, uma empresa que vendia celulares (em uma época em que os aparelhos custavam US$ 5.000 cada). Ele também era dono de um conjunto habitacional, de uma empresa de fretamento de aviões, barcos e uma concessionária de carros "exóticos" em Fort Lauderdale, também na Flórida.

De dia, eu operava a maior concessionária de Lamborghinis do mundo. De noite, eu transportava toneladas de cocaína para Pablo Escobar

A quantia oferecida a TJ por Escobar, no entanto, ou a ficar alta demais. Segundo a reportagem do The Guardian, Escobar ou a pagar o piloto em cocaína. TJ, por sua vez, ou de contrabandista de cocaína a traficante. Ele transportava a droga, vendia, recebia os lucros, lavava o dinheiro e investia os valores de forma autônoma.

Com uma frota de 30 aviões, TJ ou a ser um dos "principais transportadores" de drogas do cartel de Escobar. "Fiz o que nenhum outro contrabandista havia feito na história do contrabando", relatou TJ.

A queda de TJ

Em abril de 1988, investigadores federais invadiram a residência de TJ e o prenderam. Na operação, que contou com rifles e helicópteros, os promotores o acusaram de levar ilegalmente mais de cinco toneladas de maconha e cocaína para o sul da Flórida de julho de 1984 a dezembro de 1985.

Segundo as autoridades, as empresas de TJ eram usadas como fachada para lavar os lucros com o tráfico de drogas. Segundo o The Guardian, foram apreendidos mais de 20 carros, incluindo Lamborghinis e Ferraris. Cinco aviões, avaliados em quase US$ 3 milhões (mais de R$ 16 milhões) também foram apreendidos e encaminhados para leilão.

Em 1991, TJ se declarou culpado por distribuição ilegal de cocaína e maconha e por lavagem de dinheiro. No período em que ficou preso, ele ou dois anos em confinamento solitário. A punição aconteceu depois da denúncia do colega de cela de TJ, que o viu comprar um helicóptero de dentro da prisão e planejar a própria fuga.

No podcast, TJ revelou que instruiu o piloto do helicóptero de pousar dentro do terreno da prisão e "simplesmente o pegar por cima da cerca". Um carro próximo ao local estaria aguardando TJ para dar sequência à fuga.

Ao contar sua história, o piloto relata que considera que pagou a dívida que tinha com a sociedade. TJ conta, ainda, que deseja se tornar um empreendedor "legítimo".

A obra sobre TJ terá oito capítulos, em formato de documentário e apresentada por Johnathan Walton. O primeiro está disponível em plataformas de áudio como o Spotify e o Apple Podcasts (em inglês). Os próximos episódios serão lançados semanalmente até 23 de julho. O encontro de Walton com TJ aconteceu três dias depois do piloto sair da prisão, em local que permanece em sigilo.

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