Como grupo de Xaud na CBF vê boicote de clubes: 'Somos sócios da mesma dor'
O presidente da Federação Paraense, Ricardo Gluck Paul, analisou o movimento de parte dos clubes de não participar da eleição da CBF. A sinalização em resposta ao manifesto é uma proposta de diálogo:
"Somos sócio da mesma dor. Acredito que esse distanciamento inicial vai sendo superado à medida que o diálogo se estabelece com mais transparência e firmeza".
Ricardo será um dos oito vice-presidentes da chapa encabeçada por Samir Xaud, que será eleita domingo para substituir Ednaldo Rodrigues, afastado pela Justiça do Rio.
"Vejo com naturalidade o manifesto dos clubes. O voto é uma conquista relevante da sociedade e precisa ser respeitado, inclusive quando se opta por não exercê-lo. A mobilização de alguns clubes reflete um clamor legítimo por mais diálogo e protagonismo no futebol brasileiro, algo que também tem sido pauta constante entre as federações", acrescentou Ricardo Paul, ao UOL.
Samir tem tentado quebrar a resistência dos clubes nos últimos dias. Tanto que apareceu na reunião da comissão nacional de clubes, da qual participaram dirigentes que encabeçam o movimento de ausência na eleição, como o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.
O bloco de federações que se uniu após a destituição de Ednaldo agora traz à tona ressentimentos pelo comportamento do ex-presidente da CBF nos últimos tempos.
"Os clubes têm razão ao cobrar mais espaço e voz. E é justamente isso que nos une. Porque as federações, por muito tempo, também não se sentiram ouvidas nem tiveram autonomia real para exercer seu papel. O que estamos propondo agora é um novo tempo, uma nova forma de fazer futebol. Estamos todos no mesmo barco, com as mesmas dores, os mesmos desafios e, principalmente, os mesmos objetivos", disse ele, fazendo menção ao perfil centralizador de Ednaldo.
Estrategicamente, o grupo que agora vai comandar a CBF tenta ar a imagem de que as coisas serão diferentes.
"É importante que os clubes compreendam que essa nova gestão não representa uma continuidade da anterior. Muito pelo contrário. O que estamos construindo é uma ruptura com uma cultura centralizadora e, muitas vezes, opressora. O movimento atual é de transformação profunda da CBF - da sua governança, da sua escuta, da sua relação com clubes e federações", acrescentou o futuro VP da entidade.
Mas por que os clubes se insurgiram?
Na visão dos clubes, houve um processo acelerado para definição do novo presidente da CBF, sem um diálogo mais longo.
"O futuro do futebol brasileiro precisa ser pautado pela democracia, transparência e representatividade", disse a nota dos clubes publicada ontem.
E a crítica também é ao peso dos votos previsto no estatuto da CBF, que atribui peso três às federações. Os clubes da Série A têm peso dois. Da B, peso um.
"Estaremos prontos para conversar com a nova gestão, a partir da próxima semana, para que juntos possamos debater como mudar o processo eleitoral e outras demandas dos clubes em prol de um futebol cada vez melhor", acrescentou o grupo que assinou o manifesto.
A eleição da CBF será domingo, com a primeira convocação às 10h30. Xaud será candidato único porque Reinaldo Carneiro Bastos não conseguiu o mínimo de oito federações para registrar candidatura, apesar do apoio de 29 clubes.