
"Só perco essa eleição para mim mesmo", desabafou o presidente Lula para aliados nessa semana, ao voltar de mais uma vilegiatura no exterior, diante do clima de barata voa que encontrou no governo e as divisões na oposição pós-Bolsonaro inelegível.
Não deixa de ser verdade, e não tem nada a ver com a idade ou a saúde do presidente. Na pilha de crises e problemas que encontrou sobre a sua mesa no Planalto, a bateção de cabeças entre ministros, o fogo amigo e os tiros no pé do governo, dando munição aos adversários, deixaram Lula sem saber por onde começar para desatar os nós e botar ordem na casa.
E a cada dia a coisa piora. Já não dá para colocar a culpa na comunicação, muito menos na oposição, que só está preocupada com anistia para Bolsonaro. Basta ver o que aconteceu na quinta-feira, quando o governo ia anunciar mais um corte de gastos para salvar o arcabouço fiscal.
Antes que os ministros Haddad e Tebet, em Brasília, pudessem anunciar e explicar as medidas, os dois levaram um "furo", como se diz no jargão jornalístico, do colega dos Transportes, Renan Filho, que vazou as novidades durante um evento em São Paulo.
Pior: apenas 6 horas após o anúncio oficial, Haddad teve que fazer o primeiro recuo diante da repercussão negativa do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que fez a Bolsa cair e o dólar subir. Falou-se mais disso do que do congelamento de R$ 30,1 bilhões nas despesas do governo, que seria uma notícia positiva.
Na mesma semana, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que já tinha sido derrotada pelo ministro Alexandre Silveira, das Minas e Energia, na discussão sobre a exploração de petróleo na foz do Amazonas, levou mais uma rasteira no governo com o "liberou geral" dos licenciamentos e controles ambientais promovido pela bancada ruralista, sob o comando do "aliado" Davi Alcolumbre, o novo poderoso de Brasília.
Marina e Haddad acumulam derrotas nos embates dentro do ministério e foram perdendo prestígio em duas áreas vitais para a credibilidade e popularidade do governo. Até quando eles resistirão estoicamente, num cenário de puxadas de tapete e bolas nas costas, com Lula tendo que mediar a toda hora o corte de gastos com o aumento de despesas?
É um cenário bem diferente do que vimos nos governo Lula 1 e Lula 2, quando o presidente não teve que entrar em tantas bolas divididas e podia viajar sem sustos dentro e fora do Brasil, porque tinha na retaguarda José Dirceu, no começo, e, depois, Dilma Rousseff, que istravam as divergências internas e as relações com a base aliada. Eram equipes mais unidas e coesas que acompanhavam o presidente desde a primeira campanha presidencial, em 1989.
Agora, no Lula 3, com um ministério bem mais fraco e desunido do que os anteriores e um Congresso muito mais hostil e empoderado, o presidente já não mostra a mesma disposição e paciência para apagar incêndios e assumir a articulação política nas situações de crise, que se acumulam entre uma viagem e outra.
O governo, a esta altura, está sempre correndo atrás do prejuízo, demorando a reagir, cedendo cada vez mais parcelas de poder ao Congresso, sem conseguir retomar a iniciativa das ações políticas para reverter a curva descendente nas pesquisas.
Falta pouco mais de um ano e meio para a próxima eleição presidencial, mas neste momento o panorama é sombrio para o projeto de Lula 4. Na pesquisa Ipespe divulgada na última semana, 54% desaprovam e 40% aprovam o governo, mas o mais preocupante para o governo é a resposta dada quando perguntaram o que esperar da gestão Lula nos próximos meses: para 44%, ainda vai piorar.
Como reverter este sentimento pessimista? Não basta investir na comunicação do que já foi feito, mas oferecer algo novo ao eleitorado para voltar a acreditar no próprio taco. Quando o maior adversário do governo é o próprio governo, fica difícil encontrar respostas. Em reforma ministerial, já nem se fala mais.
Vida que segue.