Pedágio free flow revolta moradores em Sorocaba: 'Pagar pra sair de casa'

A instalação de um pedágio no sistema "free flow" na altura do km 86 da rodovia Raposo Tavares, em Sorocaba (SP), tem gerado apreensão nos moradores do bairro Genebra, localizado às margens da rodovia. Se o sistema ar a funcionar, eles poderão ter que pagar toda vez que saírem ou chegarem em casa.
O bairro fica afastado da região central e o único o para a cidade é através da rodovia, sendo obrigatória a agem pelo quilômetro onde o pedágio será instalado. Após aprovação neste ano do governador Tarcisio de Freitas (Republicanos), a previsão de início de cobrança está para abril de 2026 - ainda não foram divulgados valores.
O bairro Genebra é formado por uma comunidade de perfil humilde e o transporte público no local é precário, segundo os moradores. A população local relata que serviços básicos como asfalto, saneamento básico, água e energia elétrica são precários no bairro. Há apenas uma escola de ensino fundamental para crianças de até sete anos.
Esta situação faz com que as famílias dependam de veículo próprio e precisem sair do bairro para realizar atividades básicas, como levar os filhos à escola, ir ao supermercado, ar serviços de saúde ou chegar aos seus trabalhos.
Com a instalação do pedágio, os moradores terão que arcar com esse custo adicional sempre que pretenderem sair do bairro.
A autônoma Vivian Munhoz, 40, mora no bairro há mais de uma década e afirma que a instalação do pedágio vai comprometer a renda da família. Ela tem três filhos, dois deles autistas, que além de ir para escola também precisa deixar o bairro para ir a terapias.
"Se o pedágio custar o valor mínimo, teremos um gasto extra de pelo menos R$ 100. Isso considerando apenas as vezes que tenho que sair de casa para levar meu filho na terapia e na escola. Sem contar se precisarmos sair para ir ao mercado ou devido a alguma emergência", diz Vivian.
A cobrança pode afetar também pequenos comércios locais e serviços de entrega, que tendem a rear os custos aos clientes ou simplesmente deixar de atender à região.
"Aqui temos muitos aposentados, moradores simples, que vivem com um salário mínimo. Com essa cobrança do pedágio, os custos serão reados aos produtos que são vendidos aqui. Tudo vai ter um reajuste e vai ser revendido a um preço maior para nós", diz o comerciante Cleiton Aparecido Alves, 44, que há 25 anos mora no bairro e a três tem uma mercearia no local.
Trabalhando com entregas de cestas de café da manhã, com acompanhamento hospitalar a pacientes e como massoterapeuta, Maria Zenilda Cardoso, 53, conta que entra e sai do bairro diversas vezes ao dia e que não tem condições de arcar com mais um custo no orçamento familiar.
"Tem dias que tenho quatro entregas, que saio também para fazer as massagens e acompanhar meus pacientes às consultas, imagina o quanto vou ter que pagar de pedágio e o quanto serei prejudicada. Quanto vou ter que tirar de alimento de dentro de casa para arcar com mais essa conta?", questiona Zenilda.
O bairro Genebra é legalizado e, por ficar na divisa entre as cidades de Sorocaba e Alumínio, ele pertence aos dois municípios, sendo uma rua a responsável por essa divisão.
Segundo os moradores, para ir ao município de Alumínio há uma rota mais longa e com asfalto em pior qualidade do que a rodovia, mas que seria a única solução para ar pelo pedágio.
Outro lado
A reportagem do UOL procurou a prefeitura de Sorocaba, que explicou em nota que a responsabilidade pela instalação do pedágio é do Governo do Estado, mas que o "município está sempre pronto a colaborar em ações em favor da melhoria da qualidade de vida da população local". E acrescentou que pediu o adiamento da cobrança para 2026.
Já com relação à falta de infraestrutura do bairro, o município disse que as redes de água estão 100% implantadas no bairro e disponíveis à população.
"Há residências que ainda não entraram com pedido de ligação. O bairro não possui rede de esgoto e já estão em andamento os estudos para implantação, bem como a construção de estações elevatórias para atender essa região da cidade. Em relação à iluminação pública, a Secretaria de Serviços Públicos e Obras (Serpo) informa que os pontos existentes terão as lâmpadas substituídas por LED. Também será realizado estudo de implantação de iluminação pública nas vias onde não há tal estrutura atualmente", disse em nota.
A prefeitura de Alumínio também foi procurada pela reportagem, porém não obtivemos retorno até a publicação da matéria.
Já o Governo do Estado disse através da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) que os moradores do bairro Genebra não terão que pagar a tarifa do pedágio para sair ou entrar no bairro, porém não detalhou como isso será feito.
"A concessão do Lote Rota Sorocaba, que inclui o trecho da Rodovia Raposo Tavares, prevê a modernização da infraestrutura rodoviária com investimentos em duplicações, acostamentos, ciclovias, arelas, drenagem, além da implantação de serviços como atendimento médico, guincho, socorro mecânico e monitoramento por câmeras. Para os moradores do bairro Genebra se deslocarem até Sorocaba ou arem o bairro não haverá cobrança de tarifa. O início da cobrança da tarifa no trecho está condicionada ao cumprimento de exigências e investimentos previstos em contrato. Os pedágios eletrônicos permitirão uma cobrança proporcional ao trecho percorrido, além de desconto para usuários frequentes e isenção para motociclistas", diz a nota.
O que é o pedágio "free flow"
O pedágio "free flow", ou fluxo livre, funciona sem cabines, nem cancelas. Nele, o motorista a por um pórtico instalado na rodovia sem reduzir a velocidade.
Um sistema de câmeras e sensores lê a placa e identifica as características do veículo, registrando automaticamente o valor a ser pago.
Para pagar, basta ter a tag eletrônica, ou entrar no site ou aplicativo da concessionária. Após inserir os dados para identificação do carro, o motorista tem 30 dias para fazer o pagamento. Se não fizer o pagamento, o condutor estará sujeito a uma multa no valor de R$ 195,23 por evasão.