Tarcísio confirma encontros, mas nega conversa sobre golpe com Bolsonaro
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), falou nesta manhã como testemunha de defesa de Jair Bolsonaro (PL) na ação penal no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre tentativa de golpe de Estado em 2022. Ele confirmou ter se encontrado com o ex-presidente, mas negou qualquer discussão sobre golpe
O que aconteceu
Tarcísio confirmou encontros com o ex-presidente. O governador se reuniu com Bolsonaro algumas vezes após o segundo turno, em novembro e dezembro de 2022. "Toda vez que ia a Brasília, eu visitava o Bolsonaro, pela consideração que eu tinha, a relação que eu tinha [com ele]", afirmou. "ava para transmitir minha solidariedade, meu abraço, meu respeito", continuou. Os encontros não são citados na denúncia ou na investigação sobre tentativa de golpe.
Apenas a defesa de Bolsonaro fez perguntas ao governador. O depoimento foi curto.
Nenhuma conversa sobre ruptura institucional. Ele disse nunca ter discutido nenhuma ação sobre golpe, "assim como nunca tinha acontecido durante meu período no ministério [da Infraestrutura]. "Jamais tocou neste assunto, jamais mencionou qualquer tentativa de ruptura."
Tarcísio fala sobre a derrota para Lula. "Encontrei o presidente triste, resignado. O único comentário era de lamentar e a preocupação era que a coisa desandasse, que houvesse interrupção no curso de reformas importantes, preocupação sempre com o curso do país."
Disse que Bolsonaro já havia nomeado um responsável para a transição para o governo de Lula. "Vamos lembrar que a primeira visita que eu fiz que foi em novembro. Ele já tinha inclusive nomeado Ciro Nogueira [ex-ministro da Casa Civil, hoje presidente do PP] para cuidar da transição em 5 de novembro."
Sem relação com o 8 de Janeiro. Tarcísio também negou haver qualquer fato que relacionasse Bolsonaro com eventos que aconteceram em 8 de janeiro de 2023, quando sedes dos três Poderes foram depredadas em Brasília. "O presidente nem sequer estava no Brasil."
Ex-ministro da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse que não recebeu uma cópia da minuta do golpe. Afirmou que Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, era fiel a Bolsonaro; que nunca presenciou nenhuma conversa em que ele tratasse sobre temas como abolição do Estado Democrático de Direito, GLO ou golpe de estado; e que o ex-colega "sempre interagia conosco quando havia demanda de Bolsonaro".
Ciro também comentou a transição. "Eu me dirigia para dar as informações [sobre a transição de governo], mas não era nada que eu precisasse despachar com ele a transição, pois ele já tinha me dado o comando e nossa equipe transmitiu todas as informações necessárias para a equipe chefiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin."
Bolsonaro tem levado testemunhas para negar a discussão sobre golpe. Ontem, os ouvidos apenas confirmaram que o ex-presidente questionou a lisura do pleito eleitoral de 2022 e nunca abordou nada ilegal.
Governador foi ministro de Bolsonaro até março de 2022. Ele deixou o cargo para disputar o governo estadual e com isso, na prática, não participou de alguns dos principais episódios citados na denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Bolsonaro e seus auxiliares, como a reunião ministerial de julho de 2022.
Tarcísio também não participou de reuniões onde foram discutidas propostas de minuta golpista. O ex-ministro foi eleito no segundo turno daquele ano e não esteve em reuniões de Bolsonaro com chefes das Forças Armadas. Essas reuniões são consideradas o ponto mais forte da denúncia. Os ex-comandantes da Aeronáutica e do Exército confirmaram no Supremo que Bolsonaro apresentou nestes encontros proposta de minuta para se manter no poder mesmo após a derrota para Lula.
Governador venceu em São Paulo com apoio de Bolsonaro. Ele é apontado como um dos principais nomes da direita e possível candidato para as eleições presidenciais em 2026, enquanto Bolsonaro está inelegível.
Supremo já ouviu 44 testemunhas. Deste total, duas depam por escrito. As defesas pediram a desistência de diversas pessoas. A expectativa é que as audiências sejam concluídas na semana que vem.
Moraes conduziu todos os depoimentos. O ministro Alexandre de Moraes deu broncas, mandou recados e orientou testemunhas. Outros ministros da Primeira Turma, onde está o processo em andamento, também acompanharam alguns depoimentos.
Bolsonaro e Braga Netto acompanharam depoimentos. Réus no processo, eles participaram da audiência, de forma virtual.