Trump, os mercados e a 'Teoria Taco'
Donald Trump se irritou esta semana quando um repórter o questionou sobre a "Taco", uma sigla para a expressão "Trump Always Chickens Out', popular entre os operadores de Wall Street que acreditam que "Trump sempre volta atrás", em tradução livre.
A expressão foi criada por Robert Armstrong, redator do Financial Times, que buscou destacar a tendência do presidente americano de reverter suas políticas quando começam a perturbar os mercados.
Os investidores notaram que o governo americano "não tolera muito bem a pressão do mercado e da economia e recua rapidamente quando as tarifas causam problemas", concluiu o jornalista.
"Esta é a Teoria Taco: Trump sempre volta atrás", escreveu Armstrong em maio, após as ações se recuperarem fortemente assim que o republicano anunciou uma pausa nas tarifas generalizadas que impôs ao resto do mundo.
Não só isso. Trump anunciou na semana ada que tarifas de 50% sobre as importações da União Europeia entrariam em vigor em 1º de junho, mas dois dias depois declarou uma pausa até 9 de julho.
- "Isso se chama negociação" -
Trump, ex-incorporador imobiliário e magnata de Nova York na década de 1980, monitora de perto o mercado de ações.
Durante seu primeiro mandato, uma reação forte de Wall Street às vezes era a única maneira de mudar a opinião do bilionário.
Além das colunas do Financial Times, a "Teoria Taco" viralizou e os investidores deixaram de vê-la como uma piada sarcástica, segundo analistas.
Um podcast de John Hardy, diretor de estratégia macroeconômica do banco de investimentos dinamarquês Saxo, mencionou a estratégia Taco.
A expressão chegou aos ouvidos do presidente de 78 anos, que na quarta-feira negou categoricamente ceder à turbulência do mercado de ações.
"Será que eu sou covarde? Nunca ouvi isso antes (...) Não diga o que você disse de novo, essa é uma pergunta desagradável", respondeu o magnata ao jornalista que pediu sua opinião.
"Isso se chama negociação", acrescentou.
Para Steve Sosnick, da Interactive Brokers, a Teoria Taco é uma "maneira apolítica de os mercados colocarem o governo em foco".
- Reação -
Nas primeiras semanas do segundo mandato do bilionário republicano, Wall Street reagiu negativamente aos novos anúncios de tarifas de uma forma "muito mais significativa e direta" do que hoje, disse à AFP Sam Burns, analista da Mill Street Research.
Agora, os mercados tendem a vê-los como "facilmente reversíveis ou pouco confiáveis", disse Burns, e os investidores estão mais inclinados a não se precipitar.
Essa nova calmaria ficou evidente entre os operadores da Bolsa de Nova York, que se mantiveram firmes diante das ameaças tarifárias de Trump contra a UE, e também quando não reagiram de forma exagerada às sucessivas decisões judiciais que bloquearam e, em seguida, mantiveram temporariamente a maioria das tarifas.
Mas Hardy, o analista da Saxo, alerta que a Teoria Taco não é infalível e que não devemos perder de vista o movimento protecionista impulsionado pelo presidente da maior potência mundial.
"Trump pode 'acovardar-se' às vezes", mas "os movimentos políticos subjacentes são reais e representam uma mudança muito séria na política econômica e industrial dos Estados Unidos", escreveu Hardy no site da Saxo.
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