Gaza: embaixador chorou 4 vezes na ONU; o que ele denunciou a cada relato
Riyad Mansour, embaixador da Palestina na ONU, chorou ao denunciar que milhares de crianças estão sendo mortas em Gaza. Mas não foi a primeira vez: ele vem fazendo diversos relatos emocionados e indignados a cada vez que se pronuncia.
O que aconteceu
Mansour disse em tom emocionado que "dezenas de crianças estão morrendo de fome". "As imagens das mães abraçando corpos inertes, acariciando os cabelos, conversando com elas, pedindo desculpas a elas", falou na quinta-feira (29).
A seguir, ele desaba a chorar e cita a própria família ao falar de crianças mortas em Gaza. O diplomata chega até a bater na mesa com o punho cerrado, demonstrando indignação.
É inável! Como alguém consegue tolerar esse horror? Desculpe, senhor presidente. Eu tenho netos. Eu sei o que eles significam para as famílias. E enxergar a situação dos palestinos, sem que tenhamos coração para fazer alguma coisa, está além da capacidade de tolerância de qualquer ser humano. Chamas e fome estão devorando crianças palestinas. Riyad Mansour, embaixador da Palestina na ONU
Dias antes, Israel matou nove crianças em um ataque aéreo. De acordo com autoridades médicas em Gaza, elas tinham entre um e 12 anos de idade.
Caso motivou críticas à embaixadora de Israel no Reino Unido. Tzipi Hotovely foi pressionada e questionada pelo apresentador de TV britânico Piers Morgan sobre a falta de informações de Israel sobre o conflito contra o Hamas. A embaixadora chegou a afirmar que "era irrelevante" saber quantas crianças haviam sido mortas em Gaza.
Relembre outros momentos de choro de Riyad Mansour
Em janeiro, com lágrimas nos olhos e indignado, ele falou de ataques a hospitais de Gaza. Na sala do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador descreveu o cenário dos ataques, que transformaram hospitais em campos de batalha e alvos de Israel.
Ele leu o que estava na lousa do hospital destruído e bateu na mesa. "Mahmoud Abu Nujaila, que foi morto em um ataque aéreo israelense ao Hospital Al-Awda, escreveu uma mensagem há muitos meses em uma lousa no hospital, normalmente usada para planejar cirurgias: 'Quem ficar até o fim contará a história. Fizemos o que podíamos. Lembrem-se de nós'", relatou o embaixador.
Em abril de 2024, quando votavam se Palestina se tornaria ou não estado membro da ONU, ele defendeu com emoção o direito à vida aos compatriotas. "Nosso povo palestino, onde quer que esteja, quer a vida, se apega à vida", falou. "Amamos a vida, viver em liberdade e com dignidade em nossa pátria. Não desapareceremos. Ou nos tratam com justiça e nos dão nossos direitos, ou nos dão nossos direitos". Apesar dos apelos, não houve acordo.
Assim como os outros povos deste planeta, os palestinos são um povo que aspira à liberdade, a uma vida digna, a uma existência pacífica. O povo da Palestina não desaparecerá. O povo da Palestina não será enterrado. O povo palestino nunca foi desnecessário. Ou nos fazem justiça, ou o fazem a ele.
Em fevereiro de 2024, o representante palestino afirmou que o direito internacional não protegeu as crianças palestinas. Em audiência da Corte Internacional de Justiça, principal órgão jurídico da ONU, ele disse com a voz trêmula: "Nos guie em direção a um futuro em que as crianças palestinas sejam tratadas como crianças. Não como um grupo demográfico. Que a identidade do grupo ao qual pertencemos não diminua os direitos humanos aos quais todos temos direito. Um futuro em que nenhum palestino e nenhum israelense sejam mortos, um futuro em que dois Estados vivam lado a lado em paz e segurança."
O povo palestino exige apenas respeito por seus direitos. Não pede nada mais. Não pode aceitar nada menos e nada mais. O futuro de liberdade, justiça e paz pode começar aqui e agora. Riyad Mansour, embaixador da Palestina na ONU
Em dezembro de 2023, Mansour leu relato trágico sobre uma menina palestina assassinada que sonhava ser médica. Ela foi entrevistada por jornalistas da CNN, que registraram o relato. "Uma menina palestina de 12 anos, com o mais lindo dos nomes... Dunya, que significa... (pausa) Dunya, em árabe, significa 'o mundo inteiro'... perdeu seus pais, sua (pausa)... sua irmã e seu irmão, todos mortos no bombardeio israelense de sua casa. Ela também perdeu uma perna."
E Dunya disse que, embora nunca se esqueça de seus entes queridos, ela tem que continuar vivendo. Que ela se tornaria médica para ajudar as crianças como os médicos a ajudaram. Mas, Dunya não viveu para se tornar médica ou para homenagear sua família, ela foi morta alguns dias depois no ataque à maternidade do hospital Al Nasser. Riyad Mansour
A fala ocorreu após a adoção da Resolução 2720 do Conselho de Segurança da ONU. A medida exigia "medidas urgentes para permitir imediatamente o o humanitário seguro, desimpedido e ampliado [na região do conflito] e para criar as condições para uma cessação sustentável das hostilidades". Na época, a guerra já havia matado mais de 20 mil pessoas, incluindo 8 mil crianças.