França: operação desmantela rede de pedofilia no Telegram; 55 são detidos
Cinquenta e cinco homens foram detidos na França entre segunda (19) e quinta-feira (22), durante uma grande operação para desmantelar uma rede de pedófilos que atuava na plataforma Telegram.
Os suspeitos, com idades entre 25 e 75 anos ? incluindo um padre, um avô, um socorrista, um professor de música, pais e homens solteiros ? trocavam mensagens pelo aplicativo de mensagens criptografadas.
Todos tinham em comum o fato de estarem ligados a criminosos "extremamente perigosos", presos desde o verão ado, explicou à AFP o comissário Quentin Bevan, chefe do setor operacional do Escritório de Proteção de Menores (Ofmin).
Esses 55 homens, com antecedentes relacionados à pornografia infantil, mantinham contato com crianças ? seja por serem pais ou avôs, seja por atuarem em profissões que envolvem contato com menores.
Algumas audiências já estão em curso, mas "as investigações serão longas para reunir provas dos fatos", acrescentou Bevan. Segundo um investigador, alguns dos suspeitos se gabavam de abusar de crianças enquanto dormiam, mas afirmam não ter concretizado os atos.
Outro, negando qualquer delito, não conseguiu explicar por que comprou uma calcinha para uma menina de 8 anos com quem convivia, relatou o mesmo investigador.
As prisões ocorreram em 42 departamentos ses. Os motivos foram posse, difusão e consulta habitual de conteúdos pornográficos envolvendo crianças com "menos de dez anos".
A operação teve início com a prisão, no verão ado, de criminosos que abusavam de crianças e publicavam os crimes no Telegram. Eles foram indiciados, entre outros crimes, por tráfico de seres humanos e podem pegar prisão perpétua.
Dez meses de investigação
"Foram necessários dez meses de investigação e de infiltração em milhares de trocas de mensagens, análise e detecção de imagens de pornografia infantil por uma força-tarefa criada no Ofmin", continuou o comissário Bevan.
Segundo ele, o Telegram "continua sendo a plataforma preferida" e um "refúgio de pedocriminosos". Embora reconheça avanços na cooperação entre o aplicativo e os investigadores desde a prisão de seu fundador, Pavel Durov, em agosto ado no aeroporto de Le Bourget, perto de Paris, Bevan afirma que o Telegram cumpre "apenas o mínimo de suas obrigações legais" nesse quesito.
Em declaração à AFP, o Telegram afirmou que "sempre respeitou as leis da União Europeia, incluindo o Digital Services Act", e que "responde sistematicamente a todas as ordens judiciais obrigatórias há anos".
"A única coisa que mudou após a detenção de Pavel Durov na França", acrescentou a plataforma, "foi que as autoridades sas aram a encaminhar corretamente seus pedidos judiciais ao Telegram, conforme o Digital Services Act" ? o que, segundo a empresa, não acontecia antes.
Desde a prisão de Pavel Durov ao desembarcar de um voo, com base em um mandado emitido por investigadores do Ofmin, o Escritório ganhou notoriedade mundial e sua experiência no combate à pedocriminalidade ou a ser reconhecida.
O bilionário russo de 40 anos, naturalizado francês em 2021, foi indiciado por uma série de delitos ligados ao crime organizado. A Justiça o acusa de não agir contra a disseminação de conteúdos criminosos na plataforma.
Durov está sob rigoroso controle judicial e proibido de deixar a França sem autorização das autoridades. Recentemente, a Justiça negou seu pedido para viajar aos Estados Unidos por motivos profissionais, alegando que a viagem não era "imprescindível nem justificada".
O modelo do Telegram se baseia na confidencialidade. Os dados pessoais dos usuários são protegidos e as mensagens, criptografadas. Segundo vários investigadores, a plataforma tem feito esforços nos últimos meses para colaborar.
Mas, desde o fechamento da plataforma Coco em junho de 2024, após vários casos ligados à pedopornografia, muitos pedocriminosos migraram para o Telegram, observa um investigador.
Com informações da AFP