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Quem são os 16 enterrados como indigentes por militares em cemitério do Rio

do UOL

Do UOL, no Rio

29/05/2025 05h30

Cerca de 2.100 pessoas foram enterradas como indigentes no cemitério de Ricardo de Albuquerque, na zona norte do Rio, no início da década de 1970, durante a ditadura militar.

Na década de 1990, um trabalho de exumação e documentação conseguiu identificar que, entre eles, havia 14 militantes políticos alvos dos militares.

Em 2014, a documentação apontou para o 15º e o 16º corpos enterrados no local.

As documentações do IML (Instituto Médico Legal) e do próprio cemitério apontam que as vítimas estavam em uma vala clandestina do cemitério, depois de terem sido enterradas como indigentes em covas rasas do local.

A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos levou peritos até o memorial, dentro do cemitério, na quadra 23, onde estariam preservadas, desde 2011, as ossadas das 16 vítimas.

O objetivo da comissão é averiguar as ossadas guardadas no memorial e, com ajuda da tecnologia e da coleta de materiais genéticos, identificar individualmente os 16 já relatados.

Quem são os 16 sepultados:

Ficha - Almir - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Almir Custódio de Lima: Recifense, era militante do PCBR e estudante secundarista da Escola Técnica Federal de Pernambuco. No Rio, foi metalúrgico. Foi enterrado como indigente no Cemitério Ricardo de Albuquerque em 31 de dezembro de 1973. Em 2 de abril de 1979, seus restos mortais foram para um ossário geral e, entre 1980 e 81, foram colocados em uma vala clandestina do cemitério.

Ficha - Getúlio - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Getúlio D'Oliveira Cabral: Mineiro, morava na Baixada Fluminense desde a infância. Entrou na militância política aos 12 anos. Trabalhou como escriturário e foi filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos do Rio. Se casou com 20 anos e teve dois filhos. Foi assassinado aos 30, carbonizado dentro de um carro. Enterrado como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, em 6 de fevereiro de 1973, teve seus restos mortais transferidos para um ossário geral em 1978 e enterrados em uma vala clandestina entre 1980 e 1981.

Ficha - José - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

José Bartolomeu Rodrigues de Souza: Pernambucano, era estudante secundarista e militante do PCBR. À revelia, foi condenado em 1971 à prisão perpétua e a dez anos de suspensão dos direitos políticos. Morreu aos 23 anos, carbonizado dentro de um carro em um caso que ficou conhecido como "Massacre do Grajaú", no Rio, quando seis militantes foram assassinados por agentes da ditadura.

Ficha - José Gomes - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

José Gomes Teixeira: Alagoano, era casado e teve cinco filhos. Foi marítimo e funcionário da Prefeitura de Duque de Caxias. Morreu aos 29 anos por asfixia mecânica, decorrente de suposto suicídio por enforcamento, enquanto estava preso no Depósito de Presos da Base Aérea do Galeão. Foi preso em 11 de junho de 1971, onde foi torturado até ser morto. Seus restos mortais foram levados para o ossário geral do Cemitério Ricardo de Albuquerque no mesmo mês e, entre 1980 e 1981, para uma vala clandestina do local.

Ficha - José Raimundo - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

José Raimundo da Costa: Ex-sargento da Marinha, participou ao lado de Carlos Lamarca da guerrilha do Vale do Ribeira (SP). Era perseguido, tanto por ser dirigente da VPR, como por sua antiga participação no movimento dos marinheiros, em 1964. Teve prisão preventiva decretada em 1969. Foi morto aos 32 anos no Rio, em 5 de agosto de 1971, após ter sido preso e torturado no DOI-Codi. Em 9 de setembro de 1971, foi enterrado como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. Em seguida, seus restos mortais foram transferidos para um ossuário geral e, posteriormente, para uma vala clandestina.

Ficha - José Silton - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

José Silton Pinheiro: Nascido no Rio Grande do Norte, estudava pedagogia na UFRN e ou a ser militante do PCBR. Morreu com 23 anos, carbonizado dentro de um carro com outros militantes em um ataque feito por ditadores. Foi enterrado no Cemitério Ricardo de Albuquerque como indigente em 6 de fevereiro de 1973. Seus restos mortais foram transferidos para um ossário geral em 1978 e enterrados em uma vala clandestina entre 1980 e 1981.

Filha - Lourdes - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Lourdes Maria Wanderley Pontes: Pernambucana, era militante do PCBR. Foi casada com Paulo Pontes da Silva, que foi preso, torturado e assassinado pela ditadura em Salvador. Com isso, Lourdes se mudou para o Rio, onde ou a viver clandestinamente. Foi morta no "Massacre do Grajaú" e teve o corpo enterrado no Cemitério Ricardo de Albuquerque como indigente. Seus restos mortais foram transferidos para um ossário geral em 1978 e enterrados em uma vala clandestina entre 1980 e 1981.

Filha - Luiz - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Luiz Ghilardini: Paulista, atuava no sindicato dos portuários. Se mudou para o Rio e pertenceu ao Comitê Regional dos Marítimos, importante organismo partidário daquele período. Ele foi sequestrado dentro de casa, com a mulher e o filho de 8 anos, sendo levados ao DOI/CODI, onde foi torturado. Embora já tivesse sido devidamente identificado, o corpo de Luiz Ghilardini foi enterrado como indigente, no cemitério Ricardo de Albuquerque, tendo sido transferido para um ossário geral em 20 de março de 1978, e, entre 1980 e 1981, para uma vala clandestina.

Ficha - Mário - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Mário de Souza Prata: Nascido no Rio, era estudante de engenharia na UFRJ, sendo presidente do DCE (Diretório Central de Estudantes). Foi morto por ditadores aos 25 anos em circunstâncias até hoje não esclarecidas. Foi enterrado como indigente no Cemitério Ricardo de Albuquerque. Seus restos mortais foram removidos para o ossuário geral do cemitério e, depois, para uma vala comum.

Ficha - Merival - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Merival Araújo: Nascido em Mato Grosso, foi professor no Vale do Jequitinhonha (MG) antes de se mudar para o Rio para ser docente de ensino superior. Foi preso numa emboscada em 7 de abril de 1973, no bairro das Laranjeiras. Foi levado ao DOI/CODI onde foi torturado até a morte, uma semana depois. Foi sepultado como indigente no dia 24 de maio de 1973, dez dias após a data da morte, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. Quase cinco anos depois, seus restos mortais foram destinados a um ossário geral e, entre 1980 e 1981, transferidos para uma vala clandestina.

Ficha - Ramires - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Ramires Maranhão do Valle: Pernambucano, militava politicamente desde o ensino médio. Depois, foi militante do PCBR, tendo atuação em Fortaleza e no Rio. Morreu com 22 anos, carbonizado dentro de um carro com outros militantes. Foi enterrado como indigente no cemitério de Ricardo de Albuquerque. Em 1979, seus restos mortais foram transferidos para o ossuário geral e, entre 1980 e 1981, para uma vala clandestina com diversas outras ossadas.

Ficha - Ranúsia - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Ranúsia Alves Rodrigues: Pernambucana, era estudante de enfermagem na UFPE. Foi presa pela primeira vez em São Paulo, em 1968, em um congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), e ou a viver clandestinamente em 1969. Morreu carbonizada dentro de um carro com outros militantes. Foi enterrada como indigente no cemitério de Ricardo de Albuquerque. Em 1979, seus restos mortais foram transferidos para o ossuário geral e, entre 1980 e 1981, para uma vala clandestina com diversas outras ossadas.

Ficha - Vitorino - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Vitorino Alves Moitinho: Baiano, aproximou-se do movimento estudantil ainda no ensino médio. Trabalhava como riscador em uma fábrica e como bancário. Em março de 1969, abandonou seus empregos na Bahia e ingressou no PCBR. No Rio, trabalhou no estaleiro Caneco no Caju, um complexo de indústrias responsáveis pela construção de navios para o Brasil e outros países, período em que ou a militar junto ao movimento operário. Morreu com 24 anos, carbonizado dentro de um carro com outros militantes. Foi enterrado como indigente no cemitério de Ricardo de Albuquerque. Em 1979, seus restos mortais foram transferidos para o ossuário geral e, entre 1980 e 1981, para uma vala clandestina com diversas outras ossadas.

Ficha - Wilton - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Imagem: Comissão da Verdade

Wilton Ferreira: Conhecido também pelo apelido de Macalé, Wilton Ferreira morava no bairro de Jacarepaguá, no Rio. Foi morto por ditadores por volta dos 25 anos de idade, nas dependências da casa onde morava, no bairro Cavalcanti. Nenhum familiar dele foi localizado pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Foi enterrado como indigente no Cemitério Ricardo de Albuquerque em 27 de junho, três meses após a morte. Em 6 de fevereiro de 1978, os restos mortais foram encaminhados para um ossário geral e, no início da década de 1980, transferidos para uma vala clandestina.

Ficha - Joel - Comissão da Verdade - Comissão da Verdade
Ficha - Joel
Imagem: Comissão da Verdade

Joel Vasconcelos Santos: Baiano, era sapateiro até se mudar com a família para o Rio. Estudou contabilidade na Escola Técnica de Comércio e foi diretor da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas). Em março de 1971, foi preso, na companhia de Antônio Carlos de Oliveira da Silva, nos arredores do morro do Borel e, desde então, não foi mais visto. Seu corpo foi sepultado como indigente em 6 de abril de 1971 no Cemitério Ricardo de Albuquerque. A identificação de que ele foi sepultado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque se deu em 2014.

Félix Escobar Sobrinho: Nascido em Miracema (RJ), foi camponês, comerciário, pedreiro, servente de obras, instalador de persianas e também tesoureiro do Sindicato dos Empregados do Comércio em Duque de Caxias e São João do Meriti, na Baixada Fluminense. Teve oito filhos: seis com a primeira mulher, os outros dois com a segunda. Ele desapareceu entre setembro e outubro de 1971, no Rio. A identificação de que ele foi sepultado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque se deu em 2014.

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