Planejada durante 1 ano em sigilo, operação 'Teia de Aranha' surpreende Rússia e ofusca negociações na Turquia
Para a Ucrânia, a operação teve dois objetivos principais: atingir diretamente o território russo para mostrar que ainda tem capacidade de agir militarmente, e aumentar a proteção do próprio espaço aéreo, neutralizando parte importante dos equipamentos usados nos ataques frequentes contra o país, segundo a correspondente da RFI em Kiev. Informações de Moscou reportam um "silêncio total sobre os ataques espetaculares da véspera", que já está sendo chamado de "Pearl Harbor Russo".
Para a Ucrânia, a operação teve dois objetivos principais: atingir diretamente o território russo para mostrar que ainda tem capacidade de agir militarmente, e aumentar a proteção do próprio espaço aéreo, neutralizando parte importante dos equipamentos usados nos ataques frequentes contra o país, segundo a correspondente da RFI em Kiev. Informações de Moscou reportam um "silêncio total sobre os ataques espetaculares da véspera", que já está sendo chamado de "Pearl Harbor Russo".
Com informações de Emmanuelle Chaze, correspondente da RFI em Kiev, e Anissa el Jabri, em Moscou
Depois de um ano e meio de preparação em total sigilo, a Ucrânia realizou uma operação de sucesso coordenada por Volodymyr Zelensky e pelo chefe da inteligência do país, Vasyl Malyuk, sem que Moscou percebesse.
Segundo Kiev, foram usados 117 drones FPV (sigla para First Person View) e 117 operadores para destruir 34% dos bombardeiros russos estacionados em bases aéreas localizadas a milhares de quilômetros do território ucraniano.
Além do ineditismo da ação ? os drones estavam escondidos em caminhões e foram lançados pelo teto instantes antes do ataque ?, o impacto financeiro para Moscou foi enorme. Se a estimativa de Kiev estiver correta, mais de 40 aviões foram destruídos ou danificados, gerando um prejuízo superior a € 7 bilhões para a Rússia.
Uma operação planejada com muita antecedência
Cerca de 41 aviões usados para bombardear cidades ucranianas foram destruídos, segundo uma fonte da inteligência da Ucrânia. Entre eles estariam bombardeiros estratégicos Tu-22 e Tu-95 ? aeronaves de grande porte, capazes de lançar bombas nucleares e frequentemente empregadas pela Rússia no disparo de mísseis de cruzeiro.
"Os russos têm cerca de 60 Tu-95. Mesmo que apenas quatro ou cinco tenham sido destruídos, isso já representa um golpe sério contra a capacidade estratégica da Rússia", avalia Ulrich Bounat, pesquisador do Instituto Open Diplomacy. Ainda segundo os serviços de segurança ucranianos, 34% dos bombardeiros estratégicos russos que transportam mísseis de cruzeiro foram destruídos.
A operação contou com a supervisão direta do presidente Volodymyr Zelensky, conforme a mesma fonte. Os drones teriam sido infiltrados clandestinamente em território russo, escondidos dentro de estruturas de madeira transportadas por caminhões. Esses caminhões tinham tetos falsos que se abriam remotamente, permitindo a decolagem dos aparelhos no momento do ataque.
Fotos divulgadas pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) mostram diversos drones pequenos, de cor preta, ocultos nos compartimentos superiores de estruturas que lembram contêineres de carga.
Trata-se, possivelmente, da primeira ofensiva ucraniana lançada a uma distância tão grande do front. Embora o envio de drones ao território russo seja uma prática frequente em resposta aos bombardeios quase diários da Rússia, ataques com esse alcance são raros.
Às vésperas de novas negociações na Turquia
A operação ocorre na véspera de uma nova rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia na Turquia, iniciativa proposta por Moscou. Após deixar em aberto a possibilidade de participação, o presidente Volodymyr Zelensky confirmou neste domingo (1) que uma delegação ucraniana, liderada pelo ministro da Defesa Rustem Umerov, estará em Istambul nesta segunda-feira.
Segundo Zelensky, as prioridades da Ucrânia nas conversas são alcançar um cessar-fogo total e incondicional, garantir o retorno dos prisioneiros de guerra e das crianças ucranianas levadas pela Rússia, conforme denuncia Kiev.
Representantes dos dois países já haviam se reunido em Istambul no dia 16 de maio, com o objetivo de pôr fim à guerra iniciada pela invasão russa em fevereiro de 2022. No entanto, o encontro teve poucos resultados práticos e terminou com um acordo limitado à troca de prisioneiros.
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Apesar dos esforços diplomáticos, os dois lados seguem com posições irreconciliáveis. Moscou exige que a Ucrânia desista definitivamente de aderir à Otan e aceite a perda de cinco regiões que a Rússia afirma ter anexado. Kiev considera essas condições inaceitáveis e exige a retirada completa das tropas russas do território ucraniano.
Além disso, o Kremlin rejeita o cessar-fogo incondicional exigido por Kiev, pelos Estados Unidos e por países europeus. Neste domingo, Zelensky voltou a defender a realização de uma reunião "no mais alto nível", ou seja, diretamente com o presidente russo Vladimir Putin. Ele já havia feito essa proposta anteriormente, mas não obteve resposta do Kremlin.